Segundo o relatório Reuters Digital News Report 2023 (Reuters DNR 2023), baseado em inquéritos em 46 países, a preocupação em distinguir o que é real e falso nas notícias aumentou, a confiança nas notícias recuou e são cada vez mais os que evitam as notícias, portugueses incluídos.
O Reuters DNR 2023 é o 12.º segundo relatório anual do Reuters Institute for the Study of Journalism (RISJ) e o 9.º relatório a contar com informação sobre Portugal, em que participam 46 países. O OberCom - Observatório da Comunicação, enquanto parceiro estratégico, colaborou com o Reuters Institute for the Study of Journalism (RISJ) na conceção do questionário para o mercado português, bem como na análise e interpretação dos dados.
Redes sociais como principal fonte de notícias
De acordo com o estudo, "entre todos os países, mais da metade (56%) diz preocupar-se em identificar a diferença entre o que é real e falso na internet quando se trata de notícias -- um aumento de 2 pontos percentuais em relação ao ano passado".
Os que dizem usar principalmente as redes sociais como fonte de notícias "estão muito mais preocupados (64%) do que aqueles que não as usam (50%), enquanto muitos países com os níveis mais elevados de preocupação também tendem a ter altos níveis de uso de notícias consumidas através das redes sociais".
Sete em cada 10 portugueses preocupados com o que é real e falso
Já no que diz respeito a Portugal, o país "continua a destacar-se na questão da confiança estruturalmente elevada face às notícias, não só em relação a outros países do sul da Europa como Grécia (19%), Espanha (33%) ou Itália (34%), mas também de países da Europa central como França (30%) ou Alemanha (43%)".
"Em 2023, cerca de sete em cada 10 portugueses dizem estar preocupados com o que é real e falso na Internet, uma proporção semelhante à identificada em 2022", refere a parte portuguesa do estudo, que salienta "que os portugueses que confiam em notícias estão mais preocupados com o que é real e falso na Internet do que os que não confiam em notícias".
Confiança nas notícias recuou
Por outro lado, a confiança nas notícias caiu em média 2 pontos percentuais globalmente, de acordo com o estudo.
"Em média, entre os países do estudo, 4 em cada 10, do total da amostra, dizem confiar na maior parte das notícias, a maior parte do tempo", sendo que a Finlândia "continua a ser o país com os níveis de confiança mais elevados (69%), enquanto a Grécia é o país com os níveis de confiança mais baixos (19%)".
Portugueses são dos que mais confiam nas notícias
O mercado português continua a posicionar-se no topo da tabela no que respeita a confiança em notícias, de acordo com relatório.
"Portugal, afasta-se dos países do sul da Europa e está mais próximo dos países nórdicos, do bloco escandinavo, confirmando-se a tendência mantida ao longo dos últimos nove anos", lê-se no Digital News Report.
E embora "a confiança em notícias caia cerca de 3 pontos percentuais face a 2022 (para os 57,8%), Portugal continua a figurar entre os países onde o indicador é mais positivo, ficando atrás apenas de Finlândia (69%) e Quénia (63%)", acrescenta.
Ou seja, "Portugal continua a destacar-se na questão da confiança estruturalmente elevada face às notícias, não só em relação a outros países do sul da Europa como Grécia (19%), Espanha (33%) ou Itália (34%), mas também de países da Europa central como França (30%) ou Alemanha (43%)".
Apesar dos índices elevados de confiança em notícias, "são os portugueses mais velhos que tendem a confiar mais em notícias".
Notícias são “muito repetitivas ou muito exaustivas emocionalmente”
O relatório também constata a existência do declínio no interesse por notícias.
"O declínio no interesse por notícias está presente num grande número de países, particularmente entre os grupos mais jovens, observando-se uma percentagem elevada de respondentes que afirmam evitar seletivamente notícias (que evitam às vezes ou com frequência)".
Em entrevistas qualitativas, "realizadas nalguns outros países, mas não em Portugal, muitos entrevistados referem que as notícias são muito repetitivas ou muito 'exaustivas emocionalmente'", conclui o estudo.
Entre os que evitam notícias, o relatório aponta que "cerca de metade (53%) tenta evitar todas as notícias de forma periódica, enquanto outros são mais específicos, reduzindo a quantidade de vezes que olham para as notícias (52%) ou evitando tópicos difíceis (32%)".
Outra das conclusões do estudo é que "grande parte do público é cético em relação aos algoritmos usados para selecionar ao que acedem através dos motores de pesquisa, redes sociais e outras plataformas".
Mais de um quarto (30%) diz que ter histórias selecionadas "para eles com base no consumo anterior é uma boa maneira de obter notícias, 6 pontos percentuais a menos do que em 2016, quando esta questão foi posta pela última vez".
No entanto, "em média, os utilizadores preferem notícias selecionadas por algoritmos àquelas escolhidas por editores ou jornalistas (27%), sugerindo que as preocupações demonstradas fazem parte de uma preocupação mais ampla face às notícias e a como elas são selecionadas".
Declínio no interesse por notícias em Portugal
Portugal segue "a tendência global" no declínio do interesse por notícias e no consequente aumento de evitá-las, sendo as da guerra da Ucrânia "as mais evitadas", e a televisão continua a ser fonte preferencial, mas em queda, segundo o Digital News Report 2023 hoje divulgado.
"O evitar ativo de notícias afirma-se como uma tendência global à qual Portugal não foge", lê-se no documento.
"No Digital News Report 2023, Portugal encontra-se numa posição intermédia, entre 46 países, com sensivelmente um terço da população a evitar ativamente notícias", adianta o relatório, salientando "que os portugueses evitam notícias de forma indiscriminada, em detrimento de formas mais seletivas, com 48% dos que dizem evitar notícias a afirmar que pura e simplesmente reduzem o acesso àquelas, enquanto 40,8% dizem evitar aceder a fontes específicas de notícias".
Apenas um quinto (20,4%) afirma evitar tópicos específicos, refere o Digital News Report Portugal 2023.
Contudo, mais de metade (52,1%) dos portugueses que utilizam a Internet "dizem ter interesse por notícias, registando-se até um ligeiro aumento, de 1 ponto percentual, face ao ano anterior".
Apesar disso, quase dois terços (63,9%) "afirma estar mais interessado em notícias com um pendor positivo e construtivo ou notícias que se foquem mais em soluções e não apenas em problemas".
Ucrânia “é o tema noticioso que os portugueses mais evitam”
O estudo português destaca ainda que "em Portugal cerca de um terço dos inquiridos evita ativamente notícias" e que "este fenómeno não é alheio à guerra entre a Federação Russa e a Ucrânia, na medida em que ele parece ter contribuído substancialmente para o aumento daqueles que dizem evitar propositadamente notícias".
Aliás, a invasão da Ucrânia "é o tema noticioso que os portugueses mais evitam - 37,6% declaram evitar este tema de forma ativa", seguindo-se as notícias "relacionadas com entretenimento e celebridades (33,8%), o desporto (30,6%) e as notícias sobre crime e segurança (30,6%)".
Já os tópicos ou temas que os portugueses menos evitam são as notícias locais ou regionais (7,0%), cultura (8,4%), ciências e tecnologia (9,4%) e ambiente e alterações climáticas (9,8%).
Maioria dos portugueses acede a notícias pela televisão
A televisão em Portugal "continua a ser usada para acesso a notícias por 67,6% dos portugueses e por 51,0% como principal fonte de notícias", mas registam-se quebras face a 2022, "na ordem dos 6,4 pontos percentuais, enquanto forma de acesso e de 2,6 pontos percentuais como principal forma de acesso".
Apesar da importância da televisão, "regista-se também que os portugueses incluem diversas outras fontes nas suas dietas informativas".
Por exemplo, "apesar das dietas mediáticas portuguesas incidirem sobretudo sobre a TV e Internet/redes sociais, a rádio continua a ter um papel muito importante na dimensão noticiosa", lê-se no documento.
A Internet (incluindo redes sociais) é usada por mais de dois terços (73,6%) e, de forma isolada, "as redes e media sociais são utilizados como principal fonte de notícias por 18,8% dos portugueses".
A imprensa "continua a ter um papel residual, "sendo em 2023 a principal fonte de notícias para apenas 4,2% da população", mas com uma melhoria face a 2022, enquanto a rádio como fonte informativa "continua a chegar a cerca de um terço dos portugueses, e é a principal fonte de notícias para 7,1%".
O estudo português tem como autores Gustavo Cardoso, Miguel Paisana e Ana Pinto Martinho, investigadores do OberCom e do CIES-ISCTE.
O tamanho total da amostra é de 93.895 adultos, com cerca de 2.000 por mercado.
O trabalho de campo foi realizado no final de janeiro/início de fevereiro deste ano e o inquérito foi realizado 'online'.
Os 46 mercados são EUA, Reino Unido, Alemanha, França, Itália, Espanha, Portugal, Irlanda, Noruega, Suécia, Finlândia, Dinamarca, Bélgica, Holanda, Suíça, Áustria, Hungria, Eslováquia, República Checa, Polónia, Croácia e Roménia.
Inclui ainda Bulgária, Grécia, Turquia, Coreia do Sul, Japão, Hong Kong, Índia, Indonésia, Malásia, Filipinas, Taiwan, Tailândia, Singapura, Austrália, Canadá, Brasil, Argentina, Colômbia, Chile, Peru, México, Nigéria, Quénia e África do Sul.