O Serviço Nacional de Saúde (SNS) já custa cerca de 14 mil milhões de euros, mas continua a enfrentar dificuldades para reter médicos e enfermeiros e dar resposta ao crescente número de utentes que esperam por consultas e cirurgias. A administração do Hospital de São João está preocupada em relação à capacidade de contratação.
“Nós estamos extremamente preocupados em relação à nossa capacidade de contratar profissionais e dos fixar os profissionais de saúde em Portugal no Serviço Nacional de Saúde. Tendencialmente não são bem remunerados de acordo com aquilo que é a exigência do trabalho que existe atualmente quer em termos de esforço físico, quer em termos de complexidade", referiu Maria João Baptista.
Para a presidente do conselho de administração do hospital de São João, os doentes são “cada vez mais difíceis e é necessário que estes profissionais de saúde, que são extremamente diferenciados, que são extremamente empenhados sejam remunerados de uma forma que seja adequada”.
Apesar dos reforços anuais do orçamento e do aumento da produção dos hospitais, o Conselho das Finanças Públicas alertou que os utentes em lista de espera para a primeira consulta cresceram 11% em 2022, enquanto a capacidade de resposta da atividade cirúrgica se deteriorou.

Enfermeiros
Da mesma forma, o vice-presidente da Ordem dos Médicos diz que a falta de enfermeiros é um problema crónico no país e que é urgente valorizar os enfermeiros.
“Já é antiga esta falta de valorização que temos em Portugal, todos os relatórios internacionais da OCDE dizem claramente que este é o momento dos países criarem uma política de recursos humanos assente na valorização dos profissionais e essencialmente em três pilares, salários, carreira e condições de trabalho”, explicou Luís Filipe Barreira, vice-presidente da Ordem dos Enfermeiros.
Como disse Filipe Barreira, os enfermeiros esperam que aja medidas concretas e que esta quinta-feira o primeiro-ministro consiga dizer porque é que no último relatório da OCDE os “enfermeiros estão na cauda da Europa”.
“De 21 países, Portugal está na posição 19ª. Hoje se um enfermeiro estiver num lar, nos cuidados continuados, recebe menos do que mil euros líquidos no final do mês e um enfermeiro que está num hospital ou num centro de saúde, recebe pouco mais do que 1000 euros”, concluiu.
As contestações
Os hospitais debatem-se com a falta de médicos em algumas especialidades, como a obstetrícia/ginecologia e a pediatria, o obriga ao funcionamento rotativo de serviços de urgência e de maternidades em algumas regiões.
A falta de especialistas é também evidente nos cuidados de saúde primários, onde quase 1,6 milhões de pessoas não têm médico de família, número que tem vindo a subir de forma sustentada nos últimos anos.
À crescente contestação dos sindicatos de médicos e enfermeiros com várias greves realizadas e anunciadas, o Ministério da Saúde tem respondido com os números do aumento da produção hospitalar, mas também com medidas para cuidados de saúde primários, como associar a remuneração dos médicos de família ao desempenho nas Unidades de Saúde Familiar.