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Serra da Estrela: recuperação da zona ardida pode estar a destruir ainda mais o património natural

O trabalho definido no plano de emergência, embora demorado, e em alguns casos tardio, tem sido feito com reconhecidas dificuldades face à dimensão da área ardida e as prioridades das intervenções são discutíveis

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Associações de Defesa do Ambiente alertam que alguns trabalhos de recuperação da área ardida na Serra da Estrela estão a destruir o património natural. Quase um ano depois do incêndio que destruiu 28 mil hectares, as intervenções continuam, mas há casos em que a forma como estão a ser feitos os trabalhos poderá comprometer o futuro da Serra.

A remoção da madeira queimada consequência do incêndio de agosto passado, ainda que necessária, está a deixar a serra esventrada.

As preocupações das Associações de Defesa da Serra da Estrela são legitimas quando se vêem em pleno parque natural vários quilómetros de encostas nuas, sem solo, sem capacidade de suportar camadas de vegetação, mas há sítios onde, à primeira vista, a intervenção parece ter tido em conta a salvaguarda dos terrenos e ajudará a fertilizar a terra massacrada pelo fogo que demorará tempo a recuperar.

Não é, por isso, difícil de perceber que a prevenção da erosão tenha sido um dos principais trabalhos nas encostas junto a estradas de acesso a localidades com a colocação de barreiras mas nem sempre nos locais certos.

Noutro lado, a mesma forma de atuação pouco adequada, mas que até recebeu elogios do ministro do Ambiente aquando uma visita ao local.

O trabalho definido no plano de emergência, embora demorado, e em alguns casos tardio, tem sido feito com reconhecidas dificuldades face à dimensão da área ardida e as prioridades das intervenções são discutíveis

Esta na localidade de Sarzedo, concelho da Covilhã, serve de exemplo. Não é caso único. Em Orjais há encostas sem perspetivas de qualquer intervenção. Há zonas na Serra da Estrela à mercê do tempo

A natureza também tem feito o seu trabalho, a regeneração impressiona. A vegetação cresce livre, demasiado livre.

Na Serra da Estrela há quem veja mais além e defenda que um plano de ordenamento que existe há mais de 20 anos não serve e limita futuros projetos

Do Instituto de Conservação da Natureza ninguém se disponibilizou para gravar entrevista. No entanto, em resposta à SIC a entidade fez saber que estão concluídas 27% das intervenções na recuperação da área ardida e gastos mais de 800 mil euros de um total de quatro milhões disponíveis

O ICNF reconhece ainda que a utilização da maquinaria pesada na remoção do material ardido tem tido impacto no património natural. Admite que possam haver situações de infração e assegura que vai reforçar as ações de vigilância principalmente nas áreas privadas.