Um homem com uma rebarbadora agarrada à perna foi enviado para o hospital da Guarda, onde não há médicos de cirurgia vascular. Foi estabilizado e transferido para o hospital de Viseu, ainda com a máquina agarrada ao membro.
O caso passou-se em Celorico da Beira, que fica a meio caminho entre as duas cidades. O homem andou para trás, para só depois ser enviado para o único hospital da região onde poderia ser devidamente assistido.
O caso aconteceu no sábado passado, quando o homem, de 50 anos, ficou com uma rebarbadora presa ao osso da perna enquanto ajudava o cunhado a fazer obras.
O cunhado ligou para o INEM, às 22:20, tendo sido ativada uma VMER. O caso era grave, o homem perdia muito sangue e estava em risco de vida.
Vaivém entre hospitais
Celorico da Beira fica entre a cidade da Guarda e a de Viseu. Segundo os bombeiros, o médico que assistiu o homem no local alertou o CODU que o hospital da Guarda, apesar de ficar mais perto, estava sem ortopedista naquele dia. Além disso, o hospital não tem serviço de cirurgia vascular.
“Segundo dados dos operacionais, ouviram várias vezes o médico a dizer que na Guarda não existia equipa de ortopedia”, contou à SIC Carlos Almeida, comandante dos bombeiros de Celorico da Beira.
Contactado pela SIC, o INEM diz que a decisão de enviar o doente para o hospital da Guarda foi tomada “em articulação com o médico do CODU”, que seguia o caso à distância.
Diz ainda que “o transporte teve em consideração a avaliação clínica efetuada pela equipa médica, a distância do local às diferentes unidades hospitalares, bem como as valências do hospital de destino, tendo-se articulado previamente com o hospital de destino”.
Mas no hospital da Guarda pouco ou nada foi feito à chegada do doente. À SIC, a direção clínica explica que o homem deu entrada por volta das 23:30, tendo sido de imediato assistido nas urgências.
Os médicos "consideraram que o doente deveria ser transferido para um Serviço de Urgência Polivalente, o qual contempla Cirurgia Vascular”, que não existe na Guarda.
Foi então transferido para Viseu, numa viagem de 80 quilómetros. Andou para trás, para passar novamente ao lado de Celorico da Beira. Se tivesse seguido diretamente para Viseu teriam bastado cerca de 40 minutos para chegar ao hospital onde continua internado.
O homem, sapador florestal, já não corre risco de vida, mas mantém-se o risco de amputação da perna. O garrote aplicado para estancar o sangue terá sido essencial para travar uma hemorragia fatal, mas quanto mais cedo fosse retirado maior poderia ser a probabilidade de evitar lesões que decorrem da falta de oxigenação.