Centenas de profissionais da Educação saíram à rua em Lisboa, esta sexta-feira, na primeira manifestação do ano letivo, para pedir a demissão do ministro da Educação e exigir soluções para vários problemas que denunciam na escola pública.
Durante a marcha e ao som de tambores e apitos, algumas centenas de manifestantes foram repetindo cânticos e palavras de ordem, muitos deles com um pedido em comum: a demissão do ministro da Educação, João Costa.
"O ministro da Educação demonstrou que não tem soluções", disse o coordenador do Stop, André Pestana, justificando também a escolha do local para a concentração para "pressionar o ministro das Finanças e o primeiro-ministro".
Depois de um ano letivo muito marcado por greves e protestos, os professores e não docentes prometem dar continuidade à contestação até que o Ministério da Educação aceite as reivindicações dos trabalhadores, sobretudo a recuperação do tempo de serviço congelado: seis anos, seis meses e 23 dias.
"(O Governo) tem de valorizar os profissionais da educação, dando-lhes aquilo a que têm direito", defendeu Sandra Marques, contando que participou na manifestação por si, mas também pelos seus alunos e "pelo país, no fundo".
"Porque a educação comanda o país e temos de defendê-la com todas as armas que temos. Esta é uma delas e uma das mais importantes", sublinhou a professora.
A docente acusa, ainda, o ministro da Educação de não fazer "cedências absolutamente nenhumas". A recuperação do tempo de serviço não é a única exigência dos profissionais, que referem vários problemas na escola pública: falta de professores, assistentes técnicos e operacionais.
Nuno Pinto, professor numa escola em Odemira, tem testemunhado em primeira mão esse problema. No arranque do ano letivo, na sua escola, há 54 turmas que ainda não foram atribuídos todos os professores.
"Estamos numa região em que recebemos muitos alunos estrangeiros. Temos turmas de acolhimento com falta de professores e, neste momento, os alunos passam horas na biblioteca porque têm muitos professores em falta", disse, acrescentando que há também turmas sem professor a Matemática A e Economia, disciplinas sujeitas a exame.
"Somos lixo para este Governo"
Algumas centenas de professores e não docentes uniram-se em Lisboa, num protesto convocado pelo Sindicato de Todos os Profissionais da Educação (Stop) em defesa da escola pública e por melhores condições de trabalho.
À hora marcada, pelas 14:00, perto de duas centenas de professores e não docentes já se concentravam na rua Possidónio da Silva, junto à presidência do Conselho de Ministros, quando chegou também o coordenador do Stop, André Pestana.
Pouco a pouco foram juntando-se mais profissionais e cerca das 14:30 a mancha de manifestantes iniciou a sua marcha rumo à Assembleia da República, ao som de apitos, tambores e palavras de ordem como "Não paramos" ou "Está na hora, está na hora de o ministro ir embora".
“Queremos que o Sr. ministro se ponha na nossa pele, que esta luta também é nossa. Temos ordenados de miséria (...) se as escolas são seguras, a nós também o devem. (...) Nós somos lixo para este Governo, é isso que sentimos”, confessou uma assistente operacional.
Cerca das 16:00, à chegada à Assembleia da República e com o apoio da deputada Joana Mortágua, do Bloco de Esquerda, os profissionais voltaram a juntar-se em frente às escadarias do Parlamento, erguendo os cartazes e faixas que carregaram ao longo do caminho.
Uma professora trazia um acessório diferente e que representava uma das suas reivindicações: uma mala de viagem.
Apesar de Elisabete Ferreira estar colocada em Lisboa, onde conseguiu vincular o ano passado, a família da professora continua a viver em Palhaça, Aveiro, e, por isso, hoje tem ainda pela frente quase 250 quilómetros para regressar a casa, como faz todas as semanas.
"Vivo cá durante a semana, mas vou a Palhaça durante o fim de semana para conseguir estar com a minha família", explicou, contando que, além dessas deslocações, todos os dias faz o percurso entre Lisboa e Sintra, onde conseguiu alugar casa por ser mais barato.
"Pelo menos, que nos deem um apoio para as deslocações", defendeu Elisabete, sublinhando que "um apoio à habitação também seria excelente".
A manifestação encerrou uma semana de greve convocada pelo Stop e foi a primeira de profissionais das escolas neste ano letivo, em que os docentes e não docentes prometem manter a contestação, à semelhança do ano anterior.
[Notícia atualizada às 19:25]