O anúncio foi feito por Carlos Moedas quando discursava na Praça do Município, em Lisboa, como anfitrião das celebrações do dia da Implantação da República, que assinala esta quinta-feira 113 anos.
No seu discurso, perante diversas entidades, entre as quais o primeiro-ministro, António Costa, e antes do discurso do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, o presidente da Câmara de Lisboa destacou que há "datas que se tornam símbolos", que podem ser reduzidos "a meros ritos cerimoniais, repetitivos e rotineiros" ou "datas lembradas no papel, mas sentidas com apatia pelas pessoas".
"Podemos fazer deste 5 de outubro mais uma data celebrada pelos políticos, mas de certa forma ignorada pelas pessoas. Ou podemos olhar para ela como um tiro de partida para algo melhor", disse.
"Aproveito para anunciar que para além da data histórica do 25 de Abril festejaremos também com uma grande iniciativa o 25 de Novembro. Porque todas as datas contam", acrescentou.
Na terça-feira, em conferência de imprensa, o presidente da Assembleia da República disse que as comemorações dos 50 anos da operação militar de 25 de Novembro de 1975 estão ainda fora do programa oficial das comemorações parlamentares do cinquentenário da revolução do 25 de Abril de 1974 e da Constituição de 1976.
"Na comissão organizadora decidimos que seria assumido como programa as datas e os eventos que tivessem uma leitura consensual entre nós. Por isso, decidimos focarmo-nos na sequência da revolução de 25 de Abril de 1974, primeiras eleições livres, aprovação da Constituição e primeiras eleições para a Assembleia da República, Presidente da República, autonomias regionais e autárquicas", justificou Augusto Santos Silva.
Ainda sobre esta questão do 25 de Novembro de 1975, o ex-ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros ressalvou a seguir que tal "não significa que não venham a existir outras iniciativas de comemorações de outras datas".
"Iniciativas de grupos parlamentares, da conferência de líderes ou de mim próprio nesse decurso", completou.
Divórcio entre política e pessoas dá espaço a radicalismos
O presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas, alertou hoje que o divórcio entre a política e as pessoas pode criar um vazio "capturado pelas minorias barulhentas e os ativismos radicais" que podem levar ao fim do atual regime.
"É este o atual divórcio que todos sentem entre a política e as pessoas. A política tem que voltar a ser vista, sentida e vivida pelas pessoas. Mas entre este mundo imaginário e o mundo real das pessoas, o que é que há? Há um vazio, capturado pelas minorias barulhentas e os ativismos radicais. À falta de um ativismo social moderado que dê respostas concretas, é a estes que as pessoas se agarram", disse o autarca, anfitrião das cerimónias oficiais do 5 de Outubro.
O autarca considerou que os políticos, como atores sociais, têm a "responsabilidade ética, moral e social de não deixar que os portugueses se habituem a discursos políticos inconsequentes", que "parece que falam de um país imaginário onde não vivem as pessoas reais".
Moedas lembrou que "a República de 1910 autodestruiu-se também por causa dessas minorias barulhentas e desses radicalismos" e, por isso, o 05 de Outubro é "também uma lição histórica".
"Quem fomenta esses radicalismos arrisca-se a colher, mais cedo ou mais tarde, a dissolução do regime. Não queiramos nós hoje, que caminhamos para os 50 anos do 25 de Abril, contribuir para um desfecho assim", apelou, perante vários responsáveis políticos.
Durante o discurso, enquanto Moedas dizia que "hoje cabe aos políticos não se fecharem no mundo irreal, mas abrirem-se à realidade", cerca de uma centena de pessoas que pretendia assistir à cerimónia ficou atrás das baias, colocadas a cerca de 150 metros do púlpito.
Entre o público descontente por este ano estar afastado da cerimónia do 05 de Outubro, que também assinala o Dia do Professor, dois professores com cartazes com caricaturas de António Costa e do ministro da Educação gritavam "É uma vergonha" e "Eu quero ensinar a República na escola" e "A República não é uma festa privada".
Entre as entidades que estiveram presentes na cerimónia destacou-se o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que, além de Moedas, também discursou.
Antes de o chefe de Estado chegar à Praça do Município, em Lisboa, para assinalar o 113.º aniversário da Implantação da República, em 05 de Outubro de 1910, tinham chegado ao local o presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva, e ainda o primeiro-ministro, António Costa.
Chega e Iniciativa Liberal fizeram-se representar na cerimónia pelos seus líderes, André Ventura e Rui Rocha, respetivamente.
Já o PS, BE e PCP tiveram no local os respetivos líderes parlamentares e o PSD foi representado pelo seu secretário-geral, Hugo Soares.
Com LUSA
Notícia atualizada às 16:33