O ministro da Saúde acredita que é possível evitar o caos nas urgências no próximo mês. O Governo e os sindicatos dos médicos voltam a reunir-se esta sexta-feira. O diretor executivo do Serviço Nacional de Saúde (SNS) avisou na terça-feira que se os médicos não chegarem a acordo com o Governo, novembro poderá ser o pior mês dos últimos 44 anos no SNS. As declarações do Fernando Araújo vão ter influência nas negociações? O comentador da SIC Tiago Correia responde a esta e outras perguntas sobre o processo negocial médicos-Governo e o atual estado da Saúde em Portugal.
"Eu espero que tenham influência. Eu sinalizei a mensagem do Presidente da República, o tom de crítica que este tipo de alertas não pode ser feito, eu percebo esse argumento, mas o que é facto é que estamos a discutir a possibilidade de caos nas urgências em novembro e depois da entrevista de Fernando Araújo, o ministro da Saúde colocou novas medidas em cima da mesa e eu direi que, perante a falta de planeamento, só mesmo estes alertas é que podem permitir que o caos não aconteça", começa por referir o professor de Saúde Internacional.
O ministro da Saúde propõe a criação de equipas dedicadas nas urgências. Manuel Pizarro sabe que "não será um remédio universal" para os problemas nestes serviços, mas facilitará o seu funcionamento, que ficará menos dependentes das horas extraordinárias dos médicos.
A criação de equipas dedicadas nas urgências "é uma medida estrutural favorável" mas não resolve a conjuntura atual de indisponibilidade dos médicos, avisou o diretor da Unidade de Urgência e Medicina Intensiva do Hospital de São João.
Tiago Correia sublinha que "há um grande problema de urgências que não são verdadeiras urgências", mas o o grande problema é a falta de médicos nomeadamente nos centros de saúde e por isso, "não podemos fechar a porta de uma de um serviço de urgência sem antes de se ter acautelado, que há uma efetiva resposta".
Além disso, há a questão da falta de médicos: "Não sei com que médicos é que se vai fazer uma afetação de recursos humanos específicos às urgências quando não há médicos para fazer isso", destaca o comentador da SIC.
Para o professor de Saúde Internacional, todas estas questões só serão resolvidas quando se encontrar solução para "a grande disputa e contestação que tem havido com os sindicatos, são as carreiras médicas, são as carreiras profissionais que devem organizar todas as alterações a partir daí e é esse o ponto de bloqueio".
"Não acho que a questão seja colocar equipas dedicadas ou mesmo uma especialidade de urgência hospitalar se a questão das carreiras não estiver acautelada e ainda para mais em Portugal, que temos uma grande escassez de médicos e uma dificuldade de os distribuir pelo território", defende Tiago Correia que considera que a criação de uma nova especialidade iria aumentar o problema da falta de médicos noutras especialidades.