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Rita Sá Machado toma posse como nova diretora-geral da Saúde

Os médicos de saúde pública acreditam que a nova diretora-geral da Saúde poderá ser "uma lufada de ar fresco" para uma renovação da DGS, mas lamentam "a nuvem" criada em torno da sua escolha.

Rita Sá Machado toma posse como nova diretora-geral da Saúde
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A médica Rita Sá Machado toma esta quarta-feira posse como diretora-geral da Saúde, substituindo Graça Freitas, tornando-se a terceira mulher a assumir o cargo e o 21.º especialista a ocupá-lo desde que a instituição foi criada há 124 anos.

Aos 36 anos Rita Sá Machado vai liderar a Direção-Geral da Saúde nos próximos cinco anos, era até agora conselheira da Organização Mundial de Saúde.

Antes, foi conselheira de Migração e Assuntos Humanitários no Ministério dos Negócios Estrangeiros, Missão Permanente em Portugal, e chefe de divisão de Epidemiologia e Estatística da Direção-Geral da Saúde (DGS).

A nova diretora-geral da Saúde foi escolhida pelo ministro da Saúde, depois de a Comissão de Recrutamento e Seleção para a Administração Pública (CReSAP) não ter conseguido três candidatos com mérito para apresentar ao Governo.

Segundo documentos que constam no site da CReSAP, uma vez que com a repetição do concurso não foi possível chegar a uma lista de três nomes de "candidatos com mérito" para propor ao Governo, o ministro da Saúde pôde escolher quem nomear, desde que reunisse o perfil definido pelo aviso de abertura.

Antes de designar Rita Manuel Sá Machado Duarte, Manuel Pizarro solicitou à CReSAP a respetiva avaliação, tendo a comissão considerado o currículo adequado para o cargo.

De acordo com a nota bibliográfica divulgada pelo Governo, Rita Sá Machado, formou-se em Medicina na Nova Medical School e é mestre em Saúde Pública pela London School of Hygiene and Tropical Medicine, tendo formação em Medicina em Viagem e Populações Móveis, pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto.

Detém ainda uma pós-graduação em Gestão na Saúde pela Católica Porto Business School e uma pós-graduação em Educação Médica pela Harvard Medical School.

Rita Sá Machado iniciou funções como médica no Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho, tendo também exercido funções na área da saúde pública Direção-Geral da Saúde, na Administração Regional de Saúde do Norte e na Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo (Agrupamento de Centros de Saúde Almada Seixal).

A nova diretora-geral é, por inerência, a Autoridade de Saúde Nacional desde 1993, na sequência da regulamentação que clarificou as competências dos cargos.

A DGS foi fundada em outubro de 1899, com o nome de Direção-Geral de Saúde e Beneficência Pública, devido à necessidade de combater um surto de peste bubónica que assolou a cidade do Porto.

Desde então, a DGS foi liderada por 20 diretores-gerais, dos quais apenas duas mulheres, a primeira Maria Luísa Van Zeller, entre 1963 e 1971, e, desde 2017, a médica Graça Freitas, que no final de 2022 comunicou ao Ministério da Saúde que não pretendia ver renovado o seu mandato.

Nova diretora-geral da Saúde pode ser "lufada de ar fresco"

Os médicos de saúde pública acreditam que a nova diretora-geral da Saúde, Rita Sá Machado, poderá ser "uma lufada de ar fresco" para uma renovação da Direção-Geral da Saúde, mas lamentam "a nuvem" criada em torno da sua escolha.

Para o presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública, Gustavo Tato Borges, a escolha de Rita Sá Machado "é uma escolha arrojada por parte do Ministério da Saúde numa jovem médica especialista em saúde pública, com muito boa formação, muito boas qualidades profissionais e humanas".

"Pode vir a ser uma lufada de ar fresco para uma renovação da Direção-Geral da Saúde que tanto se necessitava e que tanto esperamos que venha a acontecer", disse Gustavo Tato Borges à agência Lusa.

O médico de saúde pública apenas lamentou a forma como o processo decorreu, uma vez que Rita Sá Machado foi escolhida pelo ministro da Saúde, depois de a Comissão de Recrutamento e Seleção para a Administração Pública (CReSAP) não ter conseguido chegar a uma lista de três nomes de "candidatos com mérito" para propor ao Governo.

"A doutora Rita Machado não merecia que houvesse esta nuvem por cima da sua escolha, nem o doutor Peralta Santos, nem o doutor Rui Portugal mereciam ter sido tratados da forma como foram", porque todos reúnem as condições para ser considerados com mérito para a escolha como diretor-geral da Saúde, vincou.

No seu entender, o processo de avaliação curricular da parte da CReSAP levanta "muitas dúvidas", defendendo que a comissão de recrutamento devia elucidar os especialistas sobre os critérios que levaram a que não identificasse três candidatos com mérito.

Para Tato Borges, esta situação "dificulta a credibilidade de todo o processo", defendendo que a DGS e o Ministério da Saúde deveriam também ser esclarecidos para "ficar tudo bem claro".

Apesar de todo este processo, afirmou que "a escolha de Rita Sá Machado é vista com bons olhos" como "uma esperança ao fundo do túnel" para a modernização da DGS, reclamada "há bastante tempo".

Sobre os maiores desafios para a DGS, o responsável destacou a necessidade de encontrar "um novo modelo de funcionamento, um novo enquadramento legal" que permita que a instituição se torne "mais ágil, mais rápida a responder, e estar à altura dos desafios".

Apontou como segundo grande desafio a captação de recursos humanos que fiquem a trabalhar nos quadros da DGS.

"Os seus quadros estão depauperados, os poucos profissionais que vão trabalhando com a DGS, ou a grande maioria deles, está a trabalhar apenas parcialmente e nós precisávamos que a DGS tivesse um quadro técnico de recursos humanos forte e a tempo inteiro, mas para isso é preciso tornar a DGS mais atrativa", defendeu, considerando que Rita Sá Machado poderá vir a desempenhar esse papel.

Por outro lado, é preciso dotar a DGS em termos técnicos: "É preciso prepará-la para uma próxima pandemia", dotando-a de recursos informáticos e de aplicativos, mas também de planos de contingência e de formas de atuação para que possa "responder aos desafios de uma próxima pandemia quando ela chegar, porque já não há dúvidas que vai chegar".