País

Lacerda Machado foi contratado por empresa para aproveitar amizade com Costa

Advogado foi esta terça-feira detido no âmbito da investigação que levou à demissão do primeiro-ministro. Autos indicam a existência de reuniões suspeitas entre Lacerda Machado e o chefe de gabinete do primeiro-ministro, Vítor Escária.

Lacerda Machado foi contratado por empresa para aproveitar amizade com Costa
JOSÉ SENA GOULÃO

O advogado Diogo Lacerda Machado, detido no âmbito da investigação que levou à demissão de António Costa foi contratado pela Star Campus para "aproveitar a sua relação de amizade com o primeiro-ministro" e a "proximidade" com Vítor Escária.

A informação consta dos autos de buscas da operação citados esta quarta-feira pelo Expresso.

Os autos indicam a existência de reuniões suspeitas entre o advogado Lacerda Machado e o chefe de gabinete do primeiro-ministro, Vítor Escária.

De acordo com documentos a que o Expresso teve acesso, essas reuniões aconteciam na residência oficial do primeiro-ministro, em São Bento, e também num gabinete usado por Vítor Escária na sede do Partido Socialista (PS), em Lisboa.

@FERNANDO PICARRA

"Almoços e jantares privados" por “valor não despiciendo”

Os encontros podiam ser marcados no escritório da Start Campus, empresa investigada neste caso de negócios de hidrogénio verde e lítio, e ocorrer em "almoços e jantares privados" em que em algumas ocasiões as refeições atingiam um "valor não despiciendo".

Segundo a equipa de procuradores do Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP), "o ministro das Infraestruturas, João Galamba, e o presidente da Agência Portuguesa do Ambiente (APA), Nuno Lacasta, almoçavam e jantavam por isso sem nada pagar".

Os procuradores, citados no Expresso, indicam que o advogado Diogo Lacerda Machado foi contratado pelos investidores da Start Campus e depois diretamente por esta empresa, através de Afonso Salema, um dos administradores.

De acordo com os procuradores, o objetivo era "aproveitar a sua relação de amizade próxima com o primeiro-ministro", bem como da relação de "proximidade" com Vítor Escária.

O advogado usaria igualmente essa proximidade para pressionar outros membros do Governo, através de Escária, bem como entidades como Instituto da Conservação e da Natureza e das Florestas (ICNF) ou o presidente da Câmara de Sines, Nuno Mascarenhas, para "conferir andamento mais célere e favorável" a assuntos de interesse da Start Campus.

Nos autos de busca é também referido que João Galamba terá usado dois motoristas que prestaram serviço no seu gabinete enquanto secretário de Estado da Energia e Ambiente para que realizassem deslocações apenas para seu "beneficio pessoal".

Segundo o Ministério Público (MP), o ministro "tem vindo a interferir em praticamente todas as matérias objeto de investigação", desde os factos relacionados com a mina do Romano até ao projeto de data centre da Start Camps, um projeto avaliado em 500 milhões de euros, mas "perspetivando-se" que rapidamente ascenda aos 2 mil milhões de euros.

O MP indica que João Galamba é também "suspeito de ter ajudado a convencer a autarquia de Boticas a não se opor à exploração do lítio, financiando a autarquia com uma estrada no valor de 20 milhões de euros, acordo que terá tido a colaboração do presidente da APA".

João Galamba
MIGUEL A. LOPES/LUSA

O primeiro-ministro, António Costa, pediu na terça-feira a demissão ao Presidente da República, que a aceitou, após o Ministério Público revelar que é alvo de investigação autónoma do Supremo Tribunal de Justiça sobre projetos de lítio e hidrogénio.

Esta decisão surge na sequência de uma operação sobre negócios do lítio e do hidrogénio verde, coordenada pelo DCIAP e que contou o apoio da Polícia de Segurança Pública (PSP) e Autoridade Tributária (AT).

No âmbito desta operação foram detidos o chefe de gabinete do primeiro-ministro, Vítor Escária, o advogado Lacerda Machado, o presidente da Câmara de Sines, Nuno Mascarenhas e os dois administradores da sociedade Start Campus, Afonso Salema e Rui Oliveira Neves.

O MP constituiu ainda como arguidos o ministro João Galamba e o presidente do Conselho Diretivo da APA, Nuno Lacasta.

Em causa, segundo a Procuradoria-Geral da Republica (PGR) estão crimes de prevaricação, de corrupção ativa e passiva de titular de cargo político e de tráfico de influência.

Com LUSA