O candidato à liderança dos socialistas Pedro Nuno Santos prometeu esta terça-feira dialogar com o PSD sobre áreas de soberania nacional e respeitar o acordo com os sociais-democratas sobre a metodologia para a escolha da localização do novo aeroporto.
O ex-ministro das Infraestruturas e da Habitação assumiu estas posições sobre as relações políticas com o partido liderado por Luís Montenegro em entrevista à CNN/Portugal, durante a qual também acusou o PSD de estar "radicalizado", sobretudo por "depender" da Iniciativa Liberal e já não do CDS-PP.
Interrogado sobre a forma como se relacionará com o PSD se for eleito secretário-geral do PS nas eleições de 15 e 16 de dezembro, Pedro Nuno Santos referiu que "há matérias de regime que são imprescindíveis serem trabalhadas, dialogadas e debatidas com o PSD".
"Sobre isso não tenho a menor dúvida. Agora, não posso ignorar que nós hoje temos um PSD que está radicalizado. Não só há um líder do PSD que disputa [eleitorado] com o Chega, como temos também hoje um PSD que depende da Iniciativa Liberal", apontou.
Pedro Nuno Santos caracterizou a Iniciativa Liberal como "um projeto radical, que tem uma visão diametralmente oposta à do PS sobre o Estado social".
"E obviamente que uma aliança entre o PSD e a Iniciativa Liberal tornam um Governo do PSD muito mais radical do que aquele que nós tivemos no tempo da troika", sustentou.
Em entrevista à TVI, uma hora antes, Pedro Nuno foi interrogado sobre se admitiria deixar o PSD governar em minoria, após as legislativas de 10 de março, se este partido não fizer um acordo com o Chega, o ex-ministro socialista não respondeu. Argumentou que só trabalha com um cenário de vitória do PS e advogou que o Chega "não é um problema do PS".
"Temos ouvido várias declarações do líder do PSD [Luís Montenegro] sobre essa matéria, mas aquilo que nós sabemos, para além das palavras, é de um acordo que o PSD fez nos Açores com vários partidos entre os quais o Chega. O PSD ficou em segundo lugar e o PSD fez um acordo com o Chega. Eu nunca vi o líder do PSD a fazer uma crítica a essa solução governativa", disse.
Para Pedro Nuno Santos, o facto de Luís Montenegro dizer que não vai fazer qualquer acordo com o Chega depois das eleições "não é credível".
"O ponto é: se se quer derrotar o Chega, o voto é no PS", contrapôs.
Novo aeroporto: Pedro Nuno respeita acordo com o PSD mas garante que irá haver uma decisão
Na entrevista, o ex-ministro das Infraestruturas e da Habitação afirmou que irá respeitar o acordo feito pelo atual Governo socialista com o PSD sobre a metodologia para a escolha da localização do novo aeroporto de Lisboa.
Mas também avisou que avançará para uma decisão se, eventualmente, no fim do processo, após a divulgação do relatório final da Comissão Técnica Independente, não houver concordância entre os dois maiores partidos portugueses sobre a localização.
"Esse processo não vai ser posto em causa obviamente por mim e, por isso, levarei até ao fim, mas com a certeza de que haverá uma decisão, com ou sem acordo do PSD. É fundamental que o país de uma vez por todas consiga resolver um problema que já leva cinco décadas", advertiu.
Pedro Nuno Santos admite que a Comissão Técnica Independente faça uma identificação dos pontos positivos e negativos de cada uma das localizações em análise e que depois exista um espaço para debate.
"Se for possível esse entendimento existir [com o PSD], isso é bom, porque garante estabilidade a uma decisão que vai implicar um investimento prolongado no tempo, mas não podemos ficar paralisados mais uma vez. Isso não podemos. Isso é um crime que fazemos ao país. Estamos a perder muito dinheiro por não termos tido a capacidade de decidir", argumentou.
Em relação ao processo de privatização da TAP, reiterou a sua posição a favor de uma privatização parcial, com o Estado a manter a maioria do capital. E defendeu que "não há pressa para a venda".
"Os potenciais compradores e investidores têm de saber que o Estado português não está desesperado", justificou.
Pedro Nuno nega que o PS tenha "um problema estrutural e crónico com a justiça"
Na CNN/Portugal, Pedro Nuno Santos voltou a ser confrontado com as relações entre a justiça e o PS -- um tema que tinha dominado a primeira parte da entrevista que uma hora antes tinha concedido ao Jornal Nacional da TVI.
Questionado sobre o facto de dois primeiros-ministros do PS, José Sócrates e António Costa, no espaço de nove anos, terem problemas com a justiça, o candidato à liderança dos socialistas repetiu que devem ser protegidos dois princípios fundamentais: "Um deles é a presunção de inocência, e outro é a independência das instituições judiciais".
Referiu-se, em seguida, especificamente à investigação judicial que envolve o primeiro-ministro, afirmando: "No que diz respeito a este processo em particular, estamos muito longe de poder retirar conclusões, mas muito longe mesmo".
Rejeitou, depois, que se diga que "o PS tem um problema estrutural e crónico com a justiça". "Isso não é assim, não pode ser assim", acentuou.
Interrogado sobre de que forma pode prometer que na sua eventual futura residência oficial de primeiro-ministro não vai ser encontrado dinheiro vivo escondido -- uma alusão aos mais de 75 mil euros (em numerário) encontrados na sala de trabalho de Vítor Escária, ex-chefe de gabinete de António Costa, Pedro Nuno Santos respondeu: "Aquilo que devemos fazer é procurar garantir que a nossa equipa é eticamente irrepreensível. E essa preocupação será a minha desde o primeiro minuto até ao fim", prometeu.
Ainda em relação a este caso com o ex-chefe de gabinete do primeiro-ministro, o candidato a secretário-geral do PS referiu que António Costa teve "um momento em que pediu desculpa pelo que aconteceu na residência oficial".
"Ele é o primeiro traído, desse ponto de vista. Somos todos, é o PS, e ele em primeiro lugar. António Costa fez uma escolha de alguém que tinha experiência, que era qualificado, que podia acrescentar e ajudar no seu trabalho. Não fez uma escolha de alguém que achava que podia ter aquela quantidade de dinheiro no seu gabinete. E, portanto, foi uma traição para ele", acrescentou.
Pedro Nuno garante que respeita tempo da justiça
Pedro Nuno Santos afirmou esta terça-feira que respeita o tempo da justiça, recusando impor prazos, e defendeu que o PS não pode voltar a 2014, quando tinha uma limitada autonomia estratégica, numa entrevista à TVI sobre as razões da sua candidatura ao cargo de secretário-geral do PS.
Interrogado se a procuradora-geral da República, Lucília Gago, não precisa de dar explicações sobre o processo judicial que motivou a demissão de António Costa de primeiro-ministro no passado dia 7, Pedro Nuno Santos considerou que tem o dever de impor a si próprio "uma disciplina férrea" sobre esse tema.
Falou então em dois princípios "muito importantes do Estado de Direito: a presunção de inocência e a independência do sistema judicial".
"Quero respeitar isso. A justiça tem um tempo, estou tão preocupado quanto os portugueses no que diz respeito à confiança nas instituições e é muito importante que obviamente seja esclarecido o mais depressa possível", declarou.
Questionado se o processo judicial que envolve o primeiro-ministro deve ser concluído até às eleições legislativas de 10 de março, respondeu: "Não sou eu que vou agora impor prazos ao sistema judicial". Depois, em defesa sua posição, alegou que o ainda líder do seu partido, na Comissão Nacional do PS de sábado passado, "fez um apelo aos socialistas para que se focassem no país e na política, e não na justiça".
"Acho que esse apelo do secretário-geral do PS deve ser respeitado e faz sentido", frisou.
Na entrevista à TVI, Pedro Nuno Santos defendeu o legado político de oito anos de Governos liderados por António Costa, disse querer o PS focado em ganhar as eleições e admitiu repetir uma solução de Governo com suporte parlamentar de partidos à esquerda dos socialistas.
"Nós não fechamos portas e critico quando se aparenta querer fechar portas. Em 2015, António Costa derrubou muros que existiam entre o PS e o resto da esquerda. Até a essa data, o PS dependia quase exclusivamente ou de uma maioria absoluta ou da direita para governar", assinalou.
De acordo com Pedro Nuno Santos, em 2015, sob a liderança de António Costa, que sucedeu a António José Seguro no cargo de secretário-geral, o PS alargou o seu espaço de autonomia estratégica, formando um executivo suportado no parlamento pelo PCP, BE e PEV.
"Não podemos fechar essa porta, nós não podemos voltar a 2014, voltando outra vez a restringir o espaço de autonomia do PS. Isso é que seria dramático para o PS e para as possibilidades de governabilidade do PS", frisou.