Daniel Adrião, terceiro candidato a assumir a liderança do Partido Socialista (PS), esteve este domingo em entrevista com a jornalista Ana Peneda Moreira, onde afirmou que “a minha ambição é ser secretário-geral do PS ou ser primeiro-ministro”, esclarecendo que deve haver uma separação das posições para evitar a “promiscuidade”. Adepto das reformas estruturais, o candidato defende a “reforma do sistema eleitoral”.
“O aparelho do partido não se deve confundir com o aparelho do Estado, isso gera promiscuidade. Devemos ter um primeiro-ministro em full-time e devemos ter um secretário-geral do partido a tempo inteiro”, defendeu Daniel Adrião.
O candidato à posição de secretário-geral do PS esclareceu que, neste momento, a sua intenção é ganhar as eleições de liderança do partido, mas que caso eventualmente ganhasse posteriormente às eleições legislativas se demitiria desta função dentro do partido, na medida em que “há interferências negativas quando há acumulação de funções”.
“Eu sempre defendi que devia haver eleições primárias para a nomeação do candidato do Partido Socialista a primeiro-ministro”, explicando que há interferências negativas quando há acumulação de funções.
"O primeiro sacrificado como se viu ao longo dos últimos anos, foi o próprio PS. O PS transformou-se numa espécie de apêndice do Governo para fins eleitorais”, acrescentou.
Quarta candidatura: o que traz de novo?
“Eu quero trazer o PS de volta. Sabe que o cabo da Boa Esperança só foi dobrado à quarta tentativa. Se se tivesse desistido à terceira, a história de Portugal e do mundo seriam diferentes e, portanto, eu acredito que quem tem um desígnio e quem tem um propósito e não desiste. A desistência não faz parte do meu vocabulário”, respondeu, quando questionado sobre o que traz de diferente nesta quarta candidatura.
Segundo o candidato, "o Partido Socialista precisa de uma transformação profunda. É preciso mudar o PS de alto a baixo e é preciso construir um PS de baixo para cima, a partir da base social de apoio do Partido Socialista e a partir das bases da cidadania".
Possível apoio de J. L. Carneiro e P. N. Santos?
Questionado se para esta transformação contaria com a ajuda dois dois adversários, José Luís Carneiro e Pedro Nuno Santos, Daniel Adrião respondeu com clareza: “Claro, com certeza, são dois camaradas que muito estimo e que são essenciais ao futuro do Partido Socialista”.
Daniel Adrião mostrou-se ainda surpreendido com as recentes afirmações de José Luís Carneiro, sobre este se ter mostrado apoiante das eleições primárias.
“Eu fiquei um pouco surpreendido com estas declarações do meu camarada José Luís Carneiro, porque não sabia que ele era favorável a eleições primárias dentro do PS. Sempre que eu propus isso, ele não me acompanhou nessa proposta para abrir a cidadania, para abrir aos eleitores do Partido Socialista a escolha do secretário-geral e a escolha do primeiro-ministro. E, portanto, fico até um pouco surpreendido com este facto, mas saúdo essa sua adesão”, explicou.
Coligações: sim ou não?
O candidato à liderança do PS não se opõe, caso venha a concorrer às eleições legislativas, a formar coligações com outros partidos, desde que estes pertençam à ala esquerda.
“Acho que se houver uma maioria de esquerda no Parlamento, o Partido Socialista deve procurar entendimentos com os partidos à sua esquerda, mas o Partido Socialista deve manter a sua posição de partido charneira do sistema político português e, portanto, deve tanto dialogar, dialogar com os partidos à sua esquerda, como deve também dialogar com os partidos do centro político”, defende.
Questionado sobre um possível acordo com o Partido Social Democrata (PSD), Adrião respondeu que só admite essa possibilidade “se houver uma maioria de direita no Parlamento, portanto, havendo uma maioria de esquerda, eu acho que o Partido Socialista deve fazer tudo para governar com o apoio dos partidos à sua esquerda”.
Reforma do sistema eleitoral
Daniel Adrião mostra ser um “adepto das reformas estruturais do país”, nomeadamente defensor da “mãe de todas as reformas que é a reforma do sistema eleitoral”.
“Eu sou um adepto das reformas estruturais do país e há uma com a qual eu me tenho debatido que é, aliás, a mãe de todas as reformas: a reforma do sistema eleitoral. Só se faz num entendimento entre os dois maiores partidos, neste caso entre o PS e o PSD e, portanto, é forçoso que pelo menos estes dois partidos se entendam em relação a essa matéria”, afirma.
Quando questionado sobre que tipo de alterações traria essa reforma, o candidato defende uma transição de medidas no sistema eleitoral.
"Alterações muito claras no sentido de conceder aos cidadãos o voto preferencial e nominal. […] Só há em dois países da Europa em que existe este sistema de listas fechadas e bloqueadas que nós temos em Portugal: Portugal e Espanha. Em todos os outros 25 países da União Europeia, existe voto preferencial e voto nominal, isto é, um voto personalizado, mas os cidadãos podem votar diretamente no seu candidato de preferência", esclarece.
Orçamento de Estado
Uma dos pontos com o quais o candidato está em desacordo com o Orçamento de Estado aprovado para 2024 prende-se com a questão da habitação, considerado que “de uma vez por todas, é preciso resolver a a questão da crise habitacional”.
“Eu entendo é que o Orçamento do Estado deve prever, ao longo dos próximos 10 anos, cerca de 5% das suas receitas para alocar, precisamente, à necessidade de construção de habitação”, defende.
Quem é, afinal, Daniel Adrião?
“Diz-se que sou candidato pela quarta vez a liderança do PS, mas a verdade é que nas três vezes anteriores eu não tive possibilidade de vir à televisão, explicar as minhas ideias e, portanto, na verdade, as últimas três vezes em que eu fui candidato foi uma espécie de ensaio. Agora é a verdadeira estreia.”, afirmou o candidato.
Defende o candidato à liderança do PS, que só agora, ”primeira vez, tem a oportunidade de se vir explicar e de vir apresentar as suas ideias no mainstream mediático, designadamente na televisão", afirmando que esse o motivo pelo qual “tem um défice de notoriedade".
“Espero poder ter nas próximas duas semanas, oportunidade dar a conhecer aos portugueses as minhas ideias e apresentar soluções para Portugal, porque o meu objetivo é elevar Portugal de fazer com que Portugal descole da cauda da Europa e aponte para o pelotão da frente da União Europeia”, conclui.