Já depois de Chega e IL terem exigido, publicamente, esclarecimentos sobre a compra de ações dos CTT por parte da Parpública, o líder parlamentar do Bloco de Esquerda (BE), Pedro Filipe Soares, respondeu às acusações feitas quer pelo Chega, quer pelos liberais: "É absolutamente falso”.
“É manifestamente falso, é absolutamente falso que o BE tivesse negociado quaisquer compras de ações minoritárias dos CTT com o Governo do PS em troco do voto do OE para 2021, é tão falso como o BE votou contra esse OE. Por isso não faz sentido nenhum essa insinuação, essa mentira ser propalada porque ela não tem nenhuma adesão à realidade”, declarou.
Acusando o partido de André Ventura de “propagar informação falsa” e de ser “financiado por acionistas dos CTT”, o bloquista afirmou que, ao contrário, o “BE não deve nada a ninguém, e quem insinuar mentiras tem de provar que é verdade”
“Sempre dissemos que [os CTT] não deveriam ter sido privatizados, que a gestão privada estava a delapidar a empresa, descapitalizando-a. Falhando ao país, falhando às populações”, declarou aos jornalistas no Parlamento.
Este debate, que Chega e IL querem levar ao Parlamento, surgiu na sequência de uma notícia do Jornal Económico segundo a qual o anterior Governo, sem o divulgar, instruiu a Parpública a comprar ações dos CTT através de um despacho do então ministro das Finanças, João Leão.
O líder do Chega considerou ser necessário perceber se "houve interferência política por parte do PS" e assinalou que o ministro responsável na altura era Pedro Nuno Santos.
"Era importante que ele dê uma explicação, é importante perceber se o BE, na altura liderado por Catarina Martins, teve ou não influência na chantagem sobre o Governo para a compra de ações dos CTT, através da Parpública, como moeda de troca do Orçamento do Estado, e é importante perceber porque é que o Estado decidiu gastar dinheiro daquela forma, naquele momento, quando já se sabia que o modelo de gestão estava em mudança e esse seria, com grande probabilidade, dinheiro perdido", sustentou.
André Ventura quer que o atual secretário-geral e deputado do PS, Pedro Nuno Santos, bem como a ex-líder do BE, Catarina Martins, sejam ouvidos no Parlamento sobre este caso para explicarem "se houve ou não conluio partidário".
Também aos jornalistas no Parlamento, o presidente da IL anunciou que a interpelação ao Governo que o partido agendou para a próxima quinta-feira será sobre o setor empresarial do Estado, que defendeu que "tem sido mal gerido".
"Teremos oportunidade, se não houver esclarecimentos antes, de confrontar o Governo com a questão da Parpública e da aquisição de ações dos CTT, com a questão da Efacec, da TAP, da gestão globalmente considerada das empresas públicas, da vantagem ou desvantagem de ter um Estado que intervém na economia, que utiliza empresas públicas para fazer jogo político".
Rui Rocha considerou que a "possibilidade de a Parpública ser usada como instrumento político e determinar as suas ações para agradar a determinados partidos e ou promover determinadas soluções políticas é uma situação grave, independentemente do valor da participação realmente comprada".
O líder da IL falou numa "instrumentalização" da Parpública e apontou que as ações foram compradas "para agradar ao Bloco de Esquerda".
"Queremos uma clarificação política, neste caso de Pedro Nuno Santos e do Governo socialista, sobre se a Parpública foi ou não um instrumento político ao serviço de interesses políticos, com prejuízo da sua independência e da sua motivação existencial", indicou Rui Rocha.