País

Agricultores em protesto por todo o país

Os agricultores reclamam a valorização do setor e condições justas, num protesto que está a bloquear várias estradas de norte a sul, tal como tem acontecido noutros pontos da Europa.

Fronteira do Caia bloqueada
Fronteira do Caia bloqueada
NUNO VEIGA

Os agricultores estão esta quinta-feira na rua, de norte a sul, reclamando a valorização do setor e condições justas, num protesto que está a bloquear várias estradas, tal como tem acontecido noutros pontos da Europa.

Em causa está uma iniciativa do Movimento Civil de Agricultores, que teve início às 06:00.

Estradas bloqueadas e condicionadas

Várias estradas nos distritos da Guarda, Portalegre, Beja e Santarém, incluindo a ponte da Chamusca, foram cortadas ao trânsito devido ao protesto dos agricultores.

A A6 foi bloqueada na zona de Elvas. Na fronteira do Caia, no sentido Portugal-Espanha, uma marcha lenta condicionou a via, com uma concentração de centenas de tratores.

Os tratores conduzidos por centenas de agricultores têm os 'pirilampos' ligados e transportam bandeiras portuguesas e faixas com palavras de ordem contra as políticas do Governo para o setor.

Perto das 07:00, uma coluna de carrinhas e veículos todo-o-terreno, encabeçada por uma viatura da GNR, entrou na A6 em direção à fronteira do Caia, mas pouco depois do nó Elvas Oeste, onde tinha entrado, dois carros, um em cada faixa, pararam.

Os condutores abriram o capô dos veículos e alegaram que as viaturas estavam avariadas, impedindo a passagem do trânsito.

Elementos da GNR deslocaram para o local do impedimento do trânsito e mandaram circular os veículos, mas um pouco mais à frente outros dois carros pararam, provocando novamente o bloqueio do trânsito.

Fronteira do Caia
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A A25 foi cortada nos dois sentidos. Centenas de agricultores da região Centro bloquearam desde a madrugada a autoestrada na zona de Alto de Leomil, concelho de Almeida, a cerca de 13 quilómetros da fronteira de Vilar Formoso, e dizem estar dispostos a manter o bloqueio até perceberem uma mudança no setor.

A circulação da A25 na zona de Alto de Leomil, no distrito da Guarda, foi interrompida nos dois sentidos desde as 06:00, por decisão das autoridades, sendo o trânsito desviado para as estradas nacionais.

Fronteira de Vilar Formoso
Miguel Pereira da Silva

Em Santarém, a ponte da Chamusca estava às 09:30 cortada ao trânsito, podendo os condutores usar como alternativa a Estrada Nacional 3-9 em Vila Nova da Barquinha, sendo que esta alternativa é só para veículos ligeiros.

Em Mogadouro, no distrito de Bragança, os agricultores realizam uma marcha lenta com cerca de 50 tratores para reclamar melhores condições e mais apoios financeiros do Governo. Exibiam cartazes onde se lia "O nosso fim é a vossa fome", entre outras palavras de ordem.

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Já em Beja, na fronteira de Vila Verde de Ficalho, na Estrada Nacional 260, cerca de 45 tratores e quatro viaturas pesadas ocuparam a via.

No Algarve, a fraca participação impediu a realização da marcha lenta que os agricultores algarvios tinham previsto fazer entre Faro e Castro Marim, tendo apenas sido efetuado um trajeto por autoestrada entre Faro e Tavira, disse fonte da organização à agência Lusa.

O protesto decorre um dia depois de o Governo ter anunciado um pacote de mais de 400 milhões de euros, destinado a mitigar o impacto provocado pela seca e a reforçar o Plano Estratégico da Política Agrícola Comum (PEPAC).

Segundo um comunicado divulgado esta quarta-feira, os agricultores reclamam o direito à alimentação adequada, condições justas e a valorização da atividade.

O movimento, que se apresenta como espontâneo e apartidário, garantiu que os agricultores portugueses estão preparados para "se defenderem do ataque permanente à sustentabilidade, à soberania alimentar e à vida rural".

Na quarta-feira, o Governo anunciou um pacote de apoio ao rendimento dos agricultores, que ultrapassa os 400 milhões de euros de dotação.

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Este abrange, entre outras, medidas à produção, no valor de 200 milhões de euros, assegurando a cobertura das quebras de produção e a criação de uma linha de crédito de 50 milhões de euros, com taxa de juro zero.

Soma-se a descida do ISP (Imposto Sobre Produtos Petrolíferos) do gasóleo agrícola para o mínimo permitido, que se vai traduzir numa descida de 55%, equivalente a 11 milhões de euros por ano.

Está igualmente previsto um reforço de 60 milhões de euros do primeiro pilar (pagamentos diretos) do PEPAC, nos apoios à produção dos agricultores, assegurando as candidaturas nos ecorregimes agricultura biológica e produção integrada, bem como um acréscimo também de 60 milhões de euros no segundo pilar (desenvolvimento rural) para assegurar, até fevereiro, o pagamento das candidaturas às medidas de ambiente e clima.

O Governo quer também submeter, em fevereiro, a reprogramação do PEPAC, tendo em vista a criação de novas medidas de ambiente e clima, no montante de 58 milhões de euros.

Apesar deste anúncio, os agricultores decidiram manter os protestos agendados, justificando que os apoios são "uma mão cheia de nada", tendo em conta que não são definidos prazos ou formas de pagamento.

A ministra da Agricultura, Maria do Céu Antunes, disse respeitar o direito à manifestação, mas pediu que estas sejam feitas "de forma ordeira e cumprindo os preceitos", de modo a que não ponham em causa pessoas e bens.

A governante assegurou ainda que o Governo vai ter em conta os cadernos reivindicativos apresentados pelos manifestantes.

Em França, os agricultores estão a bloquear várias estradas para denunciar, sobretudo, a queda de rendimentos, as pensões baixas, a complexidade administrativa, a inflação dos padrões e a concorrência estrangeira.

protesto em França
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O protesto também tem crescido em países como Espanha, Bélgica, Grécia, Alemanha ou Itália.

Com Lusa