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Demissão do presidente do Governo da Madeira foi formalmente aceite

Apesar da saída de cena de Miguel Albuquerque, o Presidente da República não pode dissolver a Assembleia Legislativa, nem convocar eleições antes de 24 de março, pelo que, nestas condições, um novo Governo só tomaria posse no princípio do verão.

Demissão do presidente do Governo da Madeira foi formalmente aceite

A demissão do presidente do Governo Regional da Madeira (PSD/CDS-PP), Miguel Albuquerque, já foi formalmente aceite pelo representante da República e será publicada ainda esta segunda-feira, produzindo efeitos a partir desse momento.

"Apresentei a minha demissão ao senhor representante da República, essa demissão foi aceite, será publicada hoje e compete agora ao senhor representante, no quadro do Estatuto [Político Administrativo da Região Autónoma da Madeira] ouvir os partidos políticos e depois tomar uma decisão", afirmou Miguel Albuquerque, em declarações aos jornalistas, no final de uma reunião com Ireneu Barreto, no Funchal.

O também líder do PSD/Madeira acrescentou que, a partir de agora, o executivo ficará em gestão, enquanto não for nomeado o seu sucessor à frente do Governo Regional.

"Fico num governo de gestão enquanto não houver substituição do presidente do Governo", referiu.

Há uma semana, Miguel Albuquerque (PSD) - constituído arguido num processo em que são investigadas suspeitas de corrupção na região -- tinha oficializado a renúncia ao cargo junto de Ireneu Barreto, que remeteu para mais tarde a produção de efeitos da exoneração, apesar de a ter aceite.

Contudo, segundo o presidente demissionário do Governo da Madeira entre a sua primeira deslocação ao Palácio de São Lourenço, na semana passada, e hoje "nada mudou".

"O senhor conselheiro [Ireneu Barreto] pediu para ouvirmos o partido, no sentido de o partido tomar uma decisão, e foi isso que nós fizemos", disse.

Miguel Albuquerque recordou que a solução defendida pelo PSD foi aprovada por unanimidade no Conselho Regional do partido, na quinta-feira, e assenta na garantia de que maioria parlamentar que suporta o executivo - PSD, CDS-PP e PAN - tem legitimidade para apoiar um novo Governo e um novo Orçamento Regional, evitando eleições antecipadas.

"É importante que isso aconteça, porque nós vivemos num Estado de direito democrático e isso significa que as instituições têm uma relevância nestes processos", disse.

O líder do PSD/Madeira salientou, por outro lado, que o Presidente da República não pode dissolver a Assembleia Legislativa, nem convocar eleições antes de 24 de março, pelo que, nestas condições, um novo Governo só tomaria posse no princípio do verão.

"Isso significa que a região fica sem um Orçamento e sem um Governo durante este tempo todo. Não é possível. Isto traz graves prejuízos para a vivência económica e social dos madeirenses. Não podemos estar aqui a brincar aos partidos", alertou.

O chefe demissionário do executivo madeirense disse, por outro lado, que não falou, nem tem de falar com o Presidente da República, reiterando que, neste momento, Marcelo Rebelo de Sousa "não tem qualquer possibilidade, no quadro legal constitucional, de dissolver a Assembleia, nem faz soluções a deferido, por que isso não existe".

"Portanto, nós temos que lidar com a realidade. Existe um quadro jurídico-legal num Estado de direito democrático que encontra soluções", enfatizou, considerando que a atual proposta de Orçamento Regional para 2024, cuja discussão estava prevista para entre 06 e 09 de fevereiro, não tem "quaisquer condições" para ser debatida.

Sobre o seu substituto, Miguel Albuquerque afirmou não ter "nada para dizer", pois é ao representante da República que compete tomar uma decisão, depois ouvir os nove partidos políticos com representação parlamentar: PSD, PS, JPP, Chega, CDS-PP, PCP, IL, BE e PAN.

As audições no Palácio de São Lourenço deverão começar na quarta-feira.

Miguel Albuquerque adiantou também aos jornalistas que, apesar da crise política que assola a região, está a "viver normalmente", salientando que a sua função consiste em "dar um contributo para resolver a situação".

"Isto não é uma questão emocional, isto é uma questão de termos o sangue frio e a capacidade de tomar decisões e de fazer aquilo que é preciso fazer", explicou, para logo reforçar: “Esta tramitação existe para salvaguardar a democracia e as instituições democráticas face às emoções exuberantes que surgem neste momento.”

Miguel Albuquerque admitiu, por outro lado, que esta crise poderá marcar o fim da sua vida política.

"É possível que seja o fim da minha vida política ativa, mas eu também já tive uma vida política bastante ativa. Estive 19 anos na Câmara [Municipal do Funchal] , nove anos no Governo da Madeira e fiz tudo para servir o povo que eu represento", disse, adiantando que, a partir de agora, vai fazer a sua "vida privada".

"Tenho de continuar a trabalhar. Ainda sou muito novo, só tenho 62 anos", declarou, sublinhando não estar preocupado com o levantamento da imunidade, no âmbito do processo no qual foi constituído arguido.

No âmbito da investigação que levou à constituição como arguido de Miguel Albuquerque, foram ainda detidos o então presidente da Câmara do Funchal, Pedro Calado (PSD), que renunciou entretanto ao cargo, o líder do grupo de construção AFA, Avelino Farinha, e o principal acionista do grupo ligado à construção civil Socicorreia, Custódio Correia.

A Madeira realizou eleições para a Assembleia Legislativa Regional em 24 de setembro, pelo que uma eventual dissolução pelo Presidente da República só poderá ocorrer depois de 24 de março, segundo a lei, que impede os parlamentos de serem dissolvidos durante seis meses após eleições.