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"Não me quer cá": o drama do último artesão de um bairro histórico de Castelo Branco

O drama pessoal de Jorge Batista é também uma tristeza para os albicastrenses, que têm no coração da cidade um bairro despovoado, sem o brilho de outrora.

Jorge Batista, restauro e marcenaria.
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O Bairro do Castelo é um dos mais antigos de Castelo Branco. Hoje, quase despovoado, foi, em tempos, um centro vibrante de artes e ofícios. A autarquia tenciona revitalizá-lo e dar teto ao único artesão que resta: Jorge Batista é marceneiro e está na iminência de ter de abandonar a oficina que a família arrenda desde os anos 70.

Do Castelo cimeiro, construído na Idade Média, perde-se de vista a paisagem. Dá largura às ruas estreitas que compõem o bairro a que deu nome. O passado é nostalgia, mas também História, que Jorge não quer perder. É um artista de mão cheia, com um sonho a condizer. Revela que gostava de abrir uma oficina escola no local onde trabalha. Diz que já apresentou o projeto à Câmara Municipal, mas sem sucesso.

A alegria da partilha é contida pela realidade que é agora cinzenta para este artesão. O imóvel onde está sediada a sua oficina foi vendido e o novo proprietário quer despejá-lo.

Um drama pessoal para Jorge, uma tristeza para os albicastrenses que têm no coração da cidade um bairro despovoado, sem o brilho de outrora. A autarquia propõe-se, por isso, revitalizar a zona, num projeto ambicioso.

Concentrado na arte que o distingue, Jorge rejubila com as peças que lhe passam pelas mãos, como uma gaveta indo-portuguesa do século XVII, que lhe demorou um mês e meio a restaurar.

Partilha com alegria o que sabe e vibra com novas descobertas. Há oito anos abandonou a execução de mobiliário para se dedicar apenas ao restauro, a arte que expõe, a convite da autarquia, no estrangeiro.

O pai, também ele marceneiro, não o queria por perto, desejava-o doutor. Jorge ouviu-lhe as estórias e traçou rumo próprio. Hoje, a paixão pelo restauro é turvada pelo despejo iminente, mas a autarquia promete acarinhar e não deixar sair do bairro o último artesão.