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Número de médicos a reformarem-se no ano passado é o mais alto em 10 anos

Mais de 30 por cento dos profissionais que se reformaram em 2023 no Serviço Nacional de Saúde são médicos. É o valor mais alto em 10 anos. Sindicatos e associações do setor mostram-se preocupados e dizem que o pico de reformas ainda está para chegar.

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O numero de médicos que se reformaram no ano passado atingiu o valor mais alto da última década. Foram mais de 800 clínicos que saíram do Serviço Nacional de Saúde. Os especialistas estão preocupados e avisam que o pico de aposentações ainda está para vir.

"Nós já sabíamos que isto seria assim, se olharmos para a idade dos médicos que estão no SNS, vemos que há muitos colegas acima dos 60, ou até 65 anos, e todos já sabíamos que chegaríamos a esta fase em que teríamos um pico de reformas, que teríamos dificuldade em compensar, porque temos menos médicos da geração imediatamente a seguir", diz Nuno Jacinto, da Associação de Medicina Geral e Familiar.

Mas o pico de reformas ainda poderá estar por atingir. Ao Diário de Notícias, a Associação dos Administradores Hospitalares antecipa que a situação se vai agravar nos próximos anos. Os sindicatos também estão preocupados.

"As previsões nos próximos três anos é que este número irá aumentar, irá atingir os 1000 muito provavelmente este ano", realça Jorge Roque da Cunha, do Sindicado Independente dos Médicos (SIM).

O problema é que há menos médicos para compensar essas saídas porque o Serviço Nacional de Saúde está a ter dificuldade em reter os mais novos.


"A questão salarial não pode ser escamoteada, não pode ser esquecida, é importantíssima, começou a ser trabalhada mas não está ainda onde deveria estar, nem perto disso, mas é preciso que haja também um reconhecimento e uma valorização. Se não houver, os colegas não se sentem bem no SNS. Isso leva a que saiam ou a que nem sequer entrem. É este problema da retenção que nós temos de trabalhar", refere Nuno Jacinto.

Até porque a falta de médicos, agravada pelas saídas para a reforma pode aumentar ainda mais o número de utentes sem médico de família.


"Claro que, mesmo que retivéssemos toda a gente, provavelmente ainda íamos ter um saldo negativo, mas o que se passa é que isso não está a acontecer. Este balanço entre entradas e saídas, nos próximos anos, vai continuar a ser um balanço muito complicado, ao nível de várias especialidades, e ao nível dos médicos de família em concreto, é algo que nos preocupa há bastante tempo", acrescenta Nuno Jacinto.


“Esta falta de planeamento, a circunstância de uma profissão onde os médicos adoecem, têm filhos, têm licença de paternidade, têm problemas de saúde, dado o seu desgaste, obrigaria a que se investisse no SNS”, aponta Roque da Cunha.

No caso dos enfermeiros, o balanço parece ser positivo. Segundo os dados divulgados pelo DN, o último ano terminou com mais 134 enfermeiros, na região de Lisboa e Vale do Tejo aumentam as queixas de dificuldades em contratar enfermeiros.