Eram nove horas e a rua das Finanças já se compunha. Uns aproveitam a folga dos campos agrícolas para tratar de documentos, outros queixam-se entre si da falta de emprego.
Para o indiano Amit, é um dia feliz. Passados 10 meses, conseguiu, finalmente, o visto de residência. Está em Odemira há quatro anos. Podia ir para outro país, mas escolheu ficar e quer trazer a família.
Kulvir chegou em 2022, trabalha numa estufa. O idioma também foi para si o maior entrave. No concelho surgem relatos de alegados episódios de assédio cometidos por imigrantes indostânicos, mas que as autoridades não chegam a confirmar.
Em 2022, à GNR de Odemira não tinham chegado quaisquer denúncias nesse sentido. Em 2023, havia registo de apenas uma. Mas nem por isso a especulação diminui.
Longe do que os dados não comprovam, a prioridade é dissipar estigmas. Assim explica a vice-presidente da TAIPA, entidade que gere o Centro Local de Apoio à Integração de Migrantes (CLAIM) de Odemira. Desde 2014, o CLAIM efetuou mais de 16 mil atendimentos. O serviço tem ajudado a contornar a barreira linguística, que por norma dificulta questões como a integração das crianças na escola.
Em freguesias como S. Teotónio e Vila Nova de Milfontes, os imigrantes são já metade da população residente. Os mais novos dizem não querer ficar.
Em maio do ano passado, o Governo quis travar a instalação de estufas no sudoeste alentejano, mas as portas mantiveram-se abertas para receber essa mão-de-obra. Já na altura, Odemira era a região com mais desempregados do distrito de Beja: 2.528 homens e 1.096 mulheres - números que só deverão continuar a crescer.