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"Não faz sentido" voltar ao serviço militar obrigatório só para ter "mão de obra em stock na prateleira"

O antigo chefe do Estado-maior do Exército Luís Valença Pinto defende que o tema exige "ponderação" e lembra que as Forças Armadas não vivem só de recursos humanos.

"Não faz sentido" voltar ao serviço militar obrigatório só para ter "mão de obra em stock na prateleira"
Reprodução TSF

O general Luís Valença Pinto, antigo chefe do Estado-maior do Exército, considera que a questão do serviço militar obrigatório exige “séria ponderação”, alertando para uma série de “condições difíceis de reunir neste momento”.

“A questão do serviço militar obrigatório não pode ser opinada na base de estados de alma. Tem uma dimensão política, psicológica, sociológica e militar. E na parte militar tem dimensões várias, como a operacional, evidentemente, e a logística”, afirma Luís Valença Pinto em declarações à TSF e ao DN.

“Não podemos dar aos jovens as condições que dávamos nos anos 1960, 70", nota.

Valença Pinto lembra que as Forças Armadas portuguesas têm um papel preponderante em missões internacionais, por isso questiona se “a sociedade portuguesa está preparada para enviar conscritos para lugares como o Afeganistão, a Bósnia ou o Kosovo”.

Outro fator a ter em conta é o “dinheiro” envolvido, nota. “Não vale a pena ter homens e mulheres militarmente preparados e treinados se não tivermos armamento, equipamento e fardamento”, que atualmente tem de ser mais tecnológico e sofisticado.

“Se não tivermos isso, não vale a pena termos apenas e só mão de obra em stock, na prateleira. Isso não tem muito sentido”, defende o antigo chefe do Estado-maior do Exército.

Além disso, as Forças Armadas não devem servir “apenas e só o propósito de reforçar o sentido de cidadania dos jovens”, papel que cabe às escolas, considera.

Ao novo ministro da Defesa, Valença Pinto deixa um conselho: concentre-se no papel que tem a desempenhar.

Se Nuno Melo “passar apenas pela pasta explorando as imensas oportunidades que surgem, visitas bilaterais, participação em congressos e conferências, sonhando eventualmente mais à frente vir a ser outra coisa, putativamente Ministro dos Negócios Estrangeiros, não será ministro da Defesa a sério. Esperemos que queira ser mesmo ministro da Defesa.”

Para ter “sucesso”, qualquer ministro da Defesa tem de ter “sentido de Estado”, compreender o papel das Forças Armadas, ter “peso político junto do primeiro-ministro, do ministro das Finanças, do ministro da Administração Interna e do ministro dos Negócios Estrangeiros”, aponta o general.