O general Ramalho Eanes, comandante operacional do 25 de Novembro e primeiro Presidente da República eleito em democracia, considera que “faz sentido” celebrar as duas datas fundamentais para a democracia, mas refere que “há uma data fundamental", “a data fundadora da democracia”: o 25 de Abril.
“Há uma data fundadora da democracia: o 25 de Abril. (…) Houve, como toda a gente sabe, sobretudo os mais velhos, aquela perturbação terrível a que chamaram PREC e, houve, obviamente, ameaças significativas à intenção original do 25 de Abril, que era a intenção democrática. O 25 de Novembro reassumiu esse compromisso original”, afirmou Ramalho Eanes.
Em entrevista à SIC, no Jornal da Noite, o general referiu que “separar as duas datas” é “cometer um erro histórico e os erros históricos nunca são convenientes”, acrescentando que “a história, quando é apresentada na sua totalidade, permite-nos evitar erros que foram cometidos no passado”.
Num balanço dos 50 anos do 25 de Abril, Ramalho Eanes destacou as mudanças positivas, sobretudo, na Saúde, na Educação e na “parte social”, explicando que em 1974 havia “uma miséria pungente” que foi atenuada, mas que infelizmente ainda não desapareceu.
“Uma comunidade que não consegue dar o mínimo para que todos vivam com dignidade, é uma comunidade doente”, disse, considerando a situação de pobreza de algumas família “inaceitável”.
Questionado sobre o que mudou menos desde a revolução, o general apontou a economia, que não se modernizou, nem se desenvolveu.
“Não avançou tão depressa quanto eu esperava”, indicou, referindo que a dívida acabou por estrangular a ação dos diversos Governos.
Acerca da condecoração não divulgada de Marcelo Rebelo de Sousa a Spínola, Ramalho Eanes disse que compreende a atitude do Presidente da República e afirmou ainda que as críticas não se justificam.
Já no fim da entrevista, Ramalho Eanes deixou um apelo a todos os portugueses, para que se debrucem sobre o 25 de Abril e que reflitam sobre aquilo que querem que o país seja.
“Se me permite, eu gostaria de deixar um apelo, tendo em consideração que sou um velho. Tenho quase 90 anos. Eu gostaria de dizer aos portugueses, que é muito importante que se debrucem sobre 25 de Abril, que façam uma reflexão sobre aquilo que se conseguiu. Mas acho que é mais importante ainda fazerem uma reflexão daquilo que querem que venha a ser o país. Uma reflexão que lhes permita ver o que é necessário para que tenhamos um presente melhor. De maior inclusão e, sobretudo, que tenhamos um futuro que corresponda ao desejo dos portugueses. Eu digo isto não por mim, porque são um velho, nem pelos homens da minha geração. Mas, sobretudo, para as gerações mais novas e para as gerações vindouras, porque a elas cabe assegurar a continuidade da pátria”, disse.