O ex-ministro das Finanças, Fernando Medina, reafirmou, esta sexta-feira, que só há duas interpretações possíveis para as acusações de Joaquim Miranda Sarmento: “ou é ignorância” ou “falsidade”. Em entrevista à SIC Notícias, Medina garantiu que as contas públicas estão sólidas, argumentando que as declarações do novo ministro das Finanças só vieram "causar alarme".
"A diferença nos números tem uma de duas explicações: ou ignorância, que é má para o país, ou é falsidade", disse ex-ministro, que explicou que os dados da contabilidade pública, utilizados por Joaquim Miranda Sarmento para sustentar as afirmações de quinta-feira, "não são bons" para aferir a situação estrutural do país.
Na Edição da Noite, o antigo responsável pela pasta das Finanças e agora deputado da bancada socialista, sublinhou ainda a importância de "medir muitíssimo bem as palavras", uma vez que as afirmações dos ministros têm impacto sobre a economia portuguesa e sobre a forma como Portugal é visto lá fora, nomeadamente, pelas agências de rating.
Sobre o aumento da despesa fixa em 13% no mês de março, Medina esclareceu todas as despesas estavam programadas e que, nos próximos meses, a taxa de crescimento dos gastos do Estado vai cair. O ex-governante assegurou que, mesmo com este crescimento das despesas, se prevê um superávite de 0,7% do PIB em 2024.
"Mantendo as políticas, não acrescentando nem cortando nada, país acabará com superávite de 0,7% do PIB. Agora, o Governo é eleito para governar, tomas decisões, umas que implicam o aumento das despesas, outras reduções de despesas. O que até agora temos visto é que não há governação nenhuma", criticou, acrescentando que a única tentativa de governação foi um "engano", com o alegado "choque fiscal", que, segundo Medina, afinal foi feito por si próprio.
Questionado sobre se as finanças têm margem para suportar os aumentos salariais a professores, profissionais de saúde e forças de segurança, Fernando Medina disse que fez vários alertas para as promessas ao longo da campanha eleitoral.
"Tive oportunidade de transmitir que, toda essa operação de manter as contas certas, me parecia totalmente incompatível com o programa eleitoral do PSD", acrescentou.
Fernando Medina rejeitou que, na oposição, o Partido Socialista esteja a ter um papel de elemento bloqueador e disse que cabe ao Governo procurar pontos de diálogo, acusando o Executivo de Luís Montenegro de estar a comportar-se como se tivesse uma maioria absoluta. O ex-ministro também não fechou a porta à queda do Governo.
"Parece que querem repetir a queda de Governo de Cavaco Silva de 1987", atirou Medina.
O ex-ministro das Finanças pediu para que os sinais positivos da economia sejam "acarinhados" e para que não se corram riscos que os possam pôr em causa. Nas respostas finais, Medina disse que nunca teve ambição de ser secretário-geral do PS e não foi convidado por Pedro Nuno Santos a integrar a lista para as eleições europeias.