A provedora exonerada da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa é ouvida esta quarta-feira no Parlamento. Os deputados querem explicações de Ana Jorge sobre as contas da instituição e sobre o negócio de internacionalização dos jogos. E ex-ministra Ana Mendes Godinho também é ouvida esta quarta-feira no Parlamento. Conceição Lino diz que “é preciso que realmente a provedora esclareça de que forma foi interrompido esse negócio no Brasil” e questiona o facto da ex-ministra não ter dado luz vermelha ao projeto. A jornalista da SIC, que tem trabalhado este tema nos últimos meses, esteve na Edição da Manhã da SIC Notícias para explicar alguns dos contornos deste caso e o que se pode esperar das audições no Parlamento.
“Não deixa de ser curioso, termos a gestão a administração de Ana Jorge a criar suspeitas sobre benefícios próprios destas pessoas que estiveram no negócio da internacionalização. Em grande parte no Brasil, que foi aí que foi gasto a maior parte do dinheiro e temos agora também a atual ministra, que será ouvida amanhã, a criar suspeitas sobre benefícios próprios da atual administração”, diz a jornalista.
Esta é a primeira vez que a Provedora presta declarações depois de ter sido dada como concluída a auditoria ao negócio do Brasil.
“Com certeza que dará também explicações sobre a situação em que se encontra, foi exonerada pela atual ministra que a acusou de total inação, portanto, espera-se que Ana Jorge também fale daquilo que foi fazendo ao longo deste deste ano em que esteve em funções e ainda continuam uma vez que pretendem que ela continue até a nomeação de um novo provedor”, explica Conceição Lino.
A auditoria forense aos investimentos da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa no Brasil identificou dezenas de situações de risco financeiro, jurídico ou administrativo, mas responsáveis pelos negócios afirmaram à SIC que todos as despesas e investimentos estão documentados e que não há razões para ter dúvidas sobre o circuito do dinheiro.
Conclusões que atingem principalmente o anterior provedor Edmundo Martinho e os administradores nomeados para gerir os negócios no Brasil, como Francisco Pessoa e Costa e Ricardo Gonçalves.
Ao que a SIC apurou, estes gerentes não foram questionados sobre quaisquer documentos ou aspetos menos claros. Além de dizerem que os auditores enumeram factos errados e descontextualizados, negam qualquer ilícito e falam em inaptidão de quem fez a auditoria.
“De repente há a ideia de que estas pessoas foram para o Brasil por iniciativa própria”
Aos responsáveis por esse negócio, nomeadamente Francisco Pessoa e Costa, a Santa Casa exige agora mais de 60 milhões de euros por danos.
Para a jornalista da SIC esta é uma situação que deve ser alvo de explicações, porque "de repente há a ideia de que estas pessoas foram para o Brasil por iniciativa própria, quando este projeto de internacionalização teve o aval de dois ministros, entre eles Ana Mendes Godinho, que vai ser ouvida hoje no Parlamento”.
“O que ouvimos nas audições da semana passada foi explicações, nomeadamente sobre onde o dinheiro foi parar em que aquele foi gasto é e estes responsáveis e dizem que as dívidas em relação ao negócio do Brasil só começaram a acontecer depois da entrada da provedora Ana Jorge porque até aí consideram que o dinheiro foi investimento e garantem que o percurso do dinheiro terá de explicações. De qualquer modo, também se espera que a provedora Ana Jorge dê explicações sobre essa situação. Sobre onde é que o dinheiro foi parar e se há, de facto, razões para estas acusações de que estas pessoas agiram em benefício próprio”, refere Conceição Lino.
Porque é que a ex-ministra não deu luz vermelha ao negócio no Brasil?
A jornalista considera que a ex-ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Ana Mendes Godinho irá manter que não deu autorização para os investimentos, mas questiona o facto de não ter sido dada luz vermelha mais cedo a um projeto que vem de 2019, tendo havido em 2023 uma exoneração da mesa
“Temos informação de que a ministra foi recebendo relatórios e também tinha informação e, portanto, houve de acordo com o que nós conseguimos perceber, uma falta de contato. O ex-provedor Edmundo Martinho diz que a ministra nunca lhe fez perguntas diretamente, que nunca falou com ela sobre isso”, diz Conceição Lino.
Para a jornalista da SIC, é fundamental que se façam perguntas específicas para esclarecer todas estas questões que “criam uma nebulosidade na situação da Santa Casa, que de facto é real”.
“Os gestores dos negócios fora de Portugal, nomeadamente no Brasil, recusam que se trate de um buraco financeiro grande parte desse dinheiro, porque acham que foi um investimento num negócio que foi interrompido por Ana Jorge. Portanto, haverá muitos esclarecimentos ainda”, conclui a jornalista da SIC.