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Abusos na Igreja: 32 vítimas pediram indemnização, D. José Ornelas diz que merecem "carinho especial"

No último ano, 32 pessoas pediram indemnizações por abusos sexuais cometidos pela Igreja Católica Portuguesa. A compensação financeira tem dividido a Igreja. O presidente da Conferência Episcopal sublinha que as vítimas têm de receber um "carinho especial" para poderem recuperar.

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Dos 98 casos recebidos no período de um ano, a maioria são adultos que dizem ter sido abusados por membros da Igreja Católica há mais de dez anos. Dezoito pessoas têm acompanhamento psicológico regular, com profissionais indicados pelo Grupo Vita.

Rute Agulha, coordenadora do Grupo Vita, afirmou: "Ao mesmo tempo que desejam elaborar estes traumas e aprender a viver melhor com eles, sentem em simultâneo muita dor. É como muitas vezes nos dizem: 'Tenho muito medo de remexer nas minhas memórias.' Portanto, quando afirmamos que há, à data de hoje, 18 situações em acompanhamento regular, existem outras tantas em acompanhamento irregular."

Trinta e duas pessoas disseram ao Grupo Vita que querem uma compensação financeira. No mês passado, a Conferência Episcopal Portuguesa aprovou o pagamento de indemnizações. Os pedidos formais podem ser feitos entre junho e dezembro e são avaliados por uma comissão que determina os valores em cada caso, não sendo ainda conhecidos os critérios.

As indemnizações são pagas através de um fundo para o qual contribuem todas as dioceses. Os abusos sexuais na Igreja Católica Portuguesa serão um dos temas discutidos esta semana na visita dos bispos portugueses a Roma.

D. José Ornelas, Presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, declarou: "É uma questão dolorosa, mas faz parte da nossa vida. Não nos deixa simplesmente a chorar ou a lamentar, a pedir perdão necessariamente, mas sobretudo a criar um futuro melhor no sentido da justiça e da dignidade da pessoa humana, particularmente daqueles que são mais frágeis, das crianças e das pessoas com particularidades debilidades, que não podem ser abusadas, mas antes pelo contrário, têm de ser objeto de um carinho especial para que possam recuperar."

O Grupo Vita será recebido esta terça-feira pelo Presidente da República. Vai apresentar o trabalho do último ano e apelar à criação de uma Estratégia Nacional de Prevenção da Violência Sexual, transversal a todos os contextos da sociedade.