João Oliveira considera que a União Europeia “não tem feito esforço nenhum” para procurar a paz na Ucrânia. Em entrevista à SIC Notícias, o cabeça de lista da CDU às eleições europeias defende que devia ser Bruxelas a sentar à mesa a Rússia, a Ucrânia, os EUA e a NATO e encontrar uma solução de segurança para toda a Europa.
“Tem havido uma grande ligeireza na forma como se fala da guerra”, afirmou João Oliveira, lembrando as muitas mortes que a guerra colonial trouxe a Portugal.
"Como é que se explica que se continue a falar no envio de armas quando isso só traz mais mortes?”, questionou.
O candidato comunista – para quem em cima da mesa pode estar um “conflito nuclear” - defende que “o que servia” à Ucrânia, e à Palestina, era que a presidente da Comissão Europeia propusesse uma conferência de paz para pôr fim à guerra.
“Procura-se fazer uma caricatura para desfazer a argumentação em torno da paz, mas não é um discurso de “Miss Mundo”, defende João Oliveira, explicando que a CDU procura a “dissolução dos blocos político-militares” e a “desmilitarização do mundo inteiro”.
Questionado sobre se esta posição - que passa por não enviar ajuda militar à Ucrânia para se defender - penalizará a CDU em termos eleitorais, João Oliveira não afasta essa ideia, limitando-se a lamentá-la.
“Se quem defende a paz for penalizado eleitoralmente, isso é um barómetro dos tempos sombrios que estamos a viver”, declarou.
A queda nas sondagens
A mais recente sondagem SIC/Expresso dá 3% de intenções de voto à CDU nestas eleições europeias. João Oliveira olha para este outro tipo de barómetro como uma “montanha-russa”.
Questionado sobre se estas baixas intenções de voto vão obrigar a uma mudança na estratégia de campanha da CDU, João Oliveira admite que sim.
“Temos de intensificar o trabalho até dia 9 e, se calhar, acentuar ainda mais a necessidade de o reconhecimento que vamos sentir se transformar em votos - que não se fique pelo reconhecimento.”
O reforço do resultado da CDU é o objetivo de João Oliveira nestas europeias, e garante que está confiante de que vai consegui-lo. No entanto, dá sinais contrários quando se recusa a apontar metas quantitativas para os resultados – por não querer “ficar fora de pé”.
“Estamos a travar uma batalha eleitoral muito difícil, com armas muito desproporcionais em relação aos nossos adversários políticos e em condições muito diferentes", reconhece o cabeça de lista da CDU.
Mesmo assim, garante que, nas ruas, não sente a perda de eleitorado. João Oliveira recorda até um episódio, com uma eleitora com quem contactou, “numa retrosaria em Arraiolos”, que tinha ficado chateada com a CDU por ter chumbado o Orçamento do Estado durante a “geringonça”. Depois de conversar com ela, assegura João Oliveira, a senhora prometeu que, desta vez, votaria nele.
Sair do Euro, sim. Sair da UE, não
Uma das mais controversas propostas da CDU para estas eleições europeias é o abandono da moeda única - uma ideia que, lembra João Oliveira, o PCP há muito propõe e que, defende, fica no programa porque o partido “não é oportunista”. Se fosse, alega o candidato, apagava-a e só criticava o Euro “quando há crises”.
Para o cabeça de lista da CDU, o Euro “é um problema que tem de ser ultrapassado”, um “entrave” (sob a forma de “restrições orçamentais”) que impede que sejam tomadas medidas que promovam o aumento dos salários e o investimento nos serviços públicos.
E, por isso, a CDU não só quer a saída do euro, como quer começar a prepará-la já.
“Se formos empurrados amanhã para fora do país, é uma desgraça. Se prepararmos o país para isso (...), pode ser uma coisa completamente diferente”, antecipa João Oliveira.
O candidato às europeias esclarece, contudo, que defender a saída do euro, não é o mesmo que querer a saída da União Europeia.
“A proposta para a saída da União Europeia não está colocada em lado nenhum”, frisa.
A revolta com os constrangimentos de Bruxelas adensa-se porque João Oliveira sente que as regras são diferentes, conforme os Estados-membros.
Recorda como, durante a pandemia de Covid-19, se “flexibilizaram as regras todas” e “emitiu-se dívida”, pois as economias de países como a França e a Alemanha estavam também ameaçadas.
“Aquilo que não era possível durante a troika, já foi possível durante a pandemia, porque estavam em causa os países mais poderosos”, atirou o candidato comunista.
“Um país como Portugal, que tem a dimensão que tem à escala da União Europeia, pode aceitar ser tratado desta forma?”, questionou.