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Entrevista SIC Notícias

Paulo Rangel: "Acordo frágil? A Ucrânia é o celeiro do mundo"

No dia em que Volodymir Zelensky esteve em Portugal, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, esteve em entrevista na SIC Notícias, onde abordou o acordo firmado entre Portugal e a Ucrânia.

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O Presidente da Ucrânia, Volodymir Zelensky, esteve esta terça-feira seis horas em Portugal. Uma visita-relâmpago que foi suficiente para alcançar um acordo de cooperação e segurança para 10 anos.

O ministro do Estado e dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, esteve em entrevista na Edição da Noite, da SIC Notícias, e revelou que o acordo entre Portugal e a Ucrânia não apresenta fragilidades, referindo que o modelo é semelhante aos que os outros países têm seguido. Rangel referiu ainda que o Estado português ficará salvaguardado em caso de incumprimento do acordo.

"O acordo não é nada frágil. É um acordo com um modelo que é exatamente igual ao que todos os Estados têm. A Espanha não fez nenhum tratado. Um acordo político vincula o Estado português, a Ucrânia não pode é pôr Portugal em tribunal, em caso de incumprimento", começou por dizer.

O governante relembrou ainda que foi o antigo primeiro-ministro António Costa que se comprometeu com o acordo agora celebrado com aquele país que está em guerra com a Rússia desde fevereiro de 2022.

"Este é um acordo do Governo, não é de partidos políticos. Quem se comprometeu com este acordo foi o antigo primeiro-ministro António Costa", acrescentou.

Zelensky deixou Lisboa ao início da noite com a promessa de 126 milhões de euros em apoio. Rangel afirmou que a ajuda portuguesa vai para além desse valor, enumerando diversas ações que não constam neste acordo.

"De 2022 a 2025, nós estimamos 250 milhões de euros. 126 são em 2024. Mas nós temos muito mais dinheiro. Só em ajuda humanitária foram 92 milhões de euros. Quando nós falamos em material militar, ele não está incluído. Os valores do equipamento militar e os treinos que estamos a dar aos soldados ucranianos, já excedem o valores acordados", apontou.

Questionado sobre a possibilidade de Portugal disponibilizar militares para combaterem na guerra da Ucrânia, o ministros dos Negócios Estrangeiros disse que essa hipóteses está fora de questão, mostrando-se disponível para receber e dar formação a soldados ucranianos.

"Isso, sinceramente, está fora de questão. Há um ou outro Estado europeu, nomeadamente o Presidente Macron, que já deu uma ideia sobre se estaria a favor disso. No caso português, nós estamos totalmente disponíveis para reforçar a nossa capacidade de receber soldados ou médicos para uma dar treinos mas nunca enviar militares para o terreno", considerou.

O Presidente russo, Vladimir Putin, não irá marcar presença na Cimeira da Paz, que decorrerá no próximo mês de junho na Suíça. Confrontado sobre a Rússia se tem movimentado nos bastidores, Rangel referiu que a Espanha sofreu vários ataques digitais durante a visita se Zelensky a Madrid, colocando a hipótese da Rússia estar a ripostar contra os países que apoiam a Ucrânia.

"A Rússia tem estado muito ativa, nomeadamente, na dimensão do cibercrime e na guerra híbrida. Na segunda-feira, Espanha foi alvo de vários ataques à infraestrutura digital, isto pode estar ligado à resposta da Rússia contra os países que continuam a sua posição de condenação contra a guerra e apoio à Ucrânia", disse.

“A Ucrânia é o celeiro da mundo”

Paulo Rangel afirmou ainda que Portugal tem sido irrepreensível no apoio à Ucrânia desde o início da invasão russa há dois anos mas lembrou a relutância do anterior Governo na integração europeia daquele país, considerando benéfica a sua entrada na União Europeia por ser o "celeiro da mundo".

"O apoio de Portugal à Ucrânia foi totalmente irrepreensível desde o início. Seja no apoio militar, financeiro, humanitário e político. Há um ponto que temos de trabalhar que é a integração europeia da Ucrânia. O anterior Governo foi um pouco relutante nesse ponto, defendendo que era preciso fazer primeiro reformas. A entrada da Ucrânia na União Europeia é uma coisa boa, porque é um país muito pró-atlântico. A Ucrânia é o celeiro do mundo. No dia que entrar na União Europeia o problema da autonomia estratégica alimentar ficará resolvida", rematou.