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São peça-chave na segurança da navegação, mas estão em falta nos Açores

Os Açores têm 16 faróis, mas faltam faroleiros. Fomos conhecer dois faróis na ilha de São Miguel para perceber porque é que ainda são fundamentais para a segurança da navegação.

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Plantado numa rocha a 66 metros do mar é um dos mais icónicos faróis dos Açores. Construído em 1876, o farol do Arnel é o mais antigo da região. Foi a primeira luz que se acendeu para a navegação mesmo quando nem luz elétrica havia nas ilhas. Já chegou a ter quatro faroleiros em simultâneo.

Rui Melo é um dos dois profissionais que atualmente vivem e trabalham no Farol do Arnel, localizado no Nordeste na ilha de São Miguel.

"Os nossos dias são preenchidos com rotinas. Temos rotinas dos equipamentos elétricos, dos equipamentos mecânicos e, para garantir, que esta luz nunca se apaga", diz Rui Melo.

A luz de cada farol é única. Tem um código próprio e funciona apenas durante a noite. Antes da luz elétrica, a vida dos faroleiros era mais difícil.

"O farol funcionava com torcidas de azeite, mas o azeite era uma matéria prima escassa aqui na região e era substituído com frequência por óleo de baleia, gordura de baleia, e funcionou assim até 1937", conta Rui Melo.

A tecnologia veio simplificar processos, mas esta central de produção de energia é o que garante que nada falha.

"É uma redundância à energia do farol. O farol funciona com energia da rede pública, mais basta haver uma ligação de tensão ou até um corte de energia e nós temos ali um sensor que deteta essa anomalia e faz o gerador arrancar e produzir energia para o farol", explica o faroleiro

Por aqui os dias são dedicados à manutenção, mas também há registos a fazer.

"No livro nós registamos todos os parâmetros que são lidos nos equipamentos de medida, a nível de tensão das baterias e também aquilo que se faz durante o dia em termos de manutenção. Fica tudo registado", explica Rui Melo

Junto a outra encosta, na zona sul da ilha, está o Farol de Ponta Garça. Construído em 1957, é casa e local de trabalho de Paul Barbosa, o único faroleiro do espaço.

"O que eu gosto mais da vida de faroleiro é propriamente viver no farol. Os faróis foram contruídos em locais de boa visibilidade, geralmente perto do mar, e, por isso, tem esta vista espetacular. Todos os faróis por onde eu passei têm paisagens espetaculares", conta Paul Barbosa, também faroleiro.

O farol de Ponta Garça está localizado a mais de 100 metros da linha do mar. No interior, a pequena lâmpada que o alimenta emite uma luz que é visível até 25 quilómetros de distância com uma determinada cadência.

"Um período de 5 segundos, são quatro acesos e um apagado. É um farol eclipsado, não é rotativo", diz Paul Barbosa

Para além de garantir o funcionamento do espaço, quem aqui trabalha é responsável por tudo o que envolve o farol.

"O faroleiro tem de ter os conhecimentos básicos sobre muitas áreas: eletricidade, serralharia, mecânica, pintura, jardinagem, pedreiros", enumera o faroleiro.

Os Açores têm 16 faróis espalhados pelas várias ilhas do arquipélago. Têm um total de 26 faroleiros, mas deviam ter pelo menos mais 20 por cento. Atualmente, a marinha tem concurso aberto para integrar novos profissionais na região.

"É uma oportunidade que não se pode desprezar. Enquanto estivermos na vida ativa de serviço, é-nos sempre garantida uma habitação. Um jovem que queira iniciar a sua vida, é sempre uma mais valia ter uma habituação enquanto está ao serviço nos faróis", diz Paul.

As comissões de serviço variam entre os dois e os seis anos. Quem veste a camisola tem dificuldade em falar das desvantagens de ser faroleiro.

"Estamos á distância de um clique, como toda a gente, no entanto temos de nos habituar a algumas privacidades. Embora não seja como em outros tempos, mas ainda se passa algumas. Temos de passar muito tempo durante o dia e a noite nos nossos quartos do farol sem sair", conta Rui Melo.

"Tarefas mais chatas do que outras, mas em geral gosto muito do trabalho de faroleiro", acrescenta Paul Barbosa.

Existem seis vagas disponíveis para a categoria de faroleiro nos Açores. O concurso é aberto a civis e termina a 18 deste mês. Os faróis continuam a precisar de faroleiros. Juntos guiam quem anda no mar.