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Lei da amnistia criada durante visita do Papa a Portugal continua a gerar polémica

A lei da amnistia criada na sequência da visita do Papa Francisco a Portugal continua a criar polémica na justiça. Num acórdão recente do Tribunal Constitucional, um dos juízes discordou da limitação do perdão só para jovens até aos 30 anos. Outro pôs mesmo em causa se um Estado Laico pode conceder indultos a propósito de efemérides religiosas.

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O caso chegou ao Tribunal Constitucional depois de uma juíza do Tribunal da Marinha Grande ter decidido conceder a amnistia a um homem, de 32 anos, que foi apanhado a conduzir alcoolizado.   

A magistrada considerou que o limite de 30 anos para o perdão de penas é uma discriminação injustificada. O Ministério Público recorreu e o Constitucional deu-lhe agora razão ao validar o limite de idade para o perdão de crimes.  

"Sabemos que muito do que pedimos não acolhe mérito do tribunal. Desta feita foi diferente, é uma pena a decisão do Tribunal Constitucional, mas a justiça pronunciou-se", referiu Nuno Margarido, advogado do arguido em questão.

Entre os cinco juízes que assinaram o acórdão, um votou vencido. Tal como a juíza de primeira instância, Rui Guerra da Fonseca diz que a oportunidade dada pela amnistia deveria ser para todos.

"Não sendo dada a todos, há um abandono dos que têm mais de 30 anos, que também podiam ter uma "nova oportunidade", mas não a terão: não porque seja objetivamente impossível tê-la, mas apenas porque o legislador, na sua "graça" a não quer dar, sem uma justificação constitucionalmente aceitável", defendeu o juiz.

O vice-presidente do Tribunal Constitucional, Gonçalo de Almeida Ribeiro, subscreveu a decisão, mas fez uma declaração de voto, na qual levanta questões sobre a legalidade da amnistia no seu todo. Diz que "não são admissíveis", as "amnistias comemorativas".

"Não nego que o poder público tenha toda a legitimidade para assinalar efemérides (...), concedendo feriados, organizando eventos, emitindo selos, (...). Mas não vejo como um fim comemorativo possa justificar a gravidade das consequências de uma amnistia penal", acrescentou o vice-presidente do TC.

Visita do Papa Francisco levou à criação da lei

A lei da amnistia foi criada para assinalar a realização da Jornada Mundial da Juventude, que contou com a presença do Papa Francisco no verão de 2023.

Perdoavam-se os crimes com penas não superiores a um ano de prisão ou multas que não ultrapassassem os mil euros, se as infrações tivessem sido cometidas até ao dia 19 de junho do ano passado.