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Lucília Gago: em 6 anos foram muitas as polémicas, mas a principal levou à demissão do Governo

Ainda não tinha aquecido o lugar, já as polémicas lhe batiam à porta. Desde outubro de 2018, quando se tornou Procuradora-Geral da República, foram mais as vezes em que subiu a púlpitos para ler discursos pouco compreensíveis para o cidadão comum do que as vezes em que respondeu abertamente a perguntas de jornalistas.

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Lucília Gago está a quatro meses de terminar o mandato. A Procuradora-Geral da República enfrentou nos últimos seis anos uma série de polémicas, mas nenhuma com o impacto do parágrafo que levou à demissão do Governo.

Não teve propriamente direito a estado de graça por ter sucedido a Joana Marques Vidal numa polémica substituição do cargo.

Lucília Gago disse estar preparada para prestar contas, mas não avisou que em quase seis anos de mandato só iria uma vez ao Parlamento e que não daria qualquer entrevista de fundo.

Desde outubro de 2018, foram mais as vezes em que subiu a púlpitos para ler discursos pouco compreensíveis para o cidadão comum do que as vezes em que respondeu abertamente a perguntas de jornalistas.

Lucília Gago é procuradora desde 1994. Foi diretora do DIAP de Lisboa. Criou um gabinete na Procuradoria-Geral para a área da família. Representou o Ministério Público na Comissão Nacional de Proteção de Crianças e Jovens e coordenou a comissão que reviu a lei da adoção.

Tornou-se Procuradora-Geral da República a 12 de outubro de 2018.

Não tinha aquecido ainda o lugar quando ameaçou demitir-se, depois dos maiores partidos sugerirem mais membros nomeados pelo poder político para o Conselho Superior do Ministério Público.

Lidou um ano depois com a segunda crise dentro de portas graças a uma polémica diretiva. Uma norma que deu às hierarquias do Ministério Público o poder de impor ordens aos procuradores.

A 7 de novembro do ano passado foi chamada ao Palácio do Belém quando ainda decorriam as buscas da Operação Influencer. Escreveu e mandou emitir o agora famoso comunicado, que anunciou uma investigação a António Costa junto do Supremo Tribunal. O Governo demitiu-se.

Durante dias a fio, não deu prova de vida. Quebrou o silêncio duas semanas depois.

À crise política no continente junta-se à da Madeira.

Aos dois terramotos políticos o Ministério Público acrescenta outra investigação: a das gémeas lusobrasileiras e da possível intervenção do filho do Presidente da República.

Em menos de 48 horas, o mal estar do Presidente deixa de estar confinado à sala onde falava com jornalistas estrangeiros.

À vista do país, Marcelo Rebelo de Sousa ignora a Procuradora-Geral à chegada às cerimónias do 25 de Abril.

A três meses do fim do mandato e debaixo de um coro de críticas, Lucília Gago já deixou o aviso: não há vontade para mais 6 anos.