País

"Com tanto alojamento local, estamos a deixar de ser filhos do bairro de Alfama"

Com mais de meio milhão de habitantes, Lisboa recebe todos os dias entre 30 e 40 mil turistas. A capital é cada vez mais procurada pelos estrangeiros. Os residentes de Alfama não estão contentes com o que se passa nas ruas do bairro.

Alfama, Lisboa.
Loading...

Lisboa é cada vez mais procurada pelos estrangeiros. À semelhança do Porto, as zonas históricas são as mais procuradas. O Bairro de Alfama é um dos principais centros turísticos. Para os comerciantes, os turistas são essenciais para o negócio. Já os moradores queixam-se do excesso de alojamento local e da falta de habitação.

Fernanda nasceu em Alfama há 68 anos, mas confessa que o bairro já não é aquilo que era.

“Antigamente havia muitos turistas, muitos estrangeiros e havia guias, mas era para ficarem cá. Vinham, visitavam isto e depois iam-se embora. Agora há muito alojamento local, há pessoas que precisam de casas e não têm. Está um caos isto tudo”, disse, à SIC, a residente no bairro de Alfama.

Uns metros mais acima fica a peixaria de Maria, de 78 anos, que nunca saiu de Alfama.

“Estou farta de andar a mexer para me arranjarem uma casinha aqui em Alfama e nunca mais me arranjam. Isto aqui é um centro de turismo, é estrangeiros, é tudo aqui a tirar fotografias, e não há meio de me arranjarem uma casa. Eu não estou contra quem vem de fora, toda a gente tem direito a ter uma casa, eu que ando aqui para arranjar e nunca mais arranjo”, contestou.

O alojamento local estará, na perspetiva dos moradores, a descaracterizar o bairro.

“Nós, os moradores, daqui, estamos a ser obrigados, principalmente, com o alojamento local, a deixar de ter vida no bairro, a deixarmos de ser bairristas e filhos do bairro, porque preferem os turistas aqui. Os turistas vêm para cá e fazem do nosso bairro o que querem e o que lhes apetece”, disse uma residente que não quis se identificar.

A coordenadora do Bloco de Esquerda visitou o Bairro de Alfama e não gostou do que viu:

“Os bairros transformaram-se em 'Disneylândias', têm excesso de pessoas. O terminal de cruzeiros, por exemplo, em Lisboa, descarrega milhares de pessoas na cidade num fim de semana que não consomem, não deixam nada, a não ser lixo e pressão e poluição, devido aos próprios cruzeiros”.

Com mais de meio milhão de habitantes, Lisboa recebe todos os dias entre 30 e 40 mil turistas.