O setor agrícola está em alvoroço com o aproximar das vindimas. Na região do Douro, centenas de viticultores não têm compradores para as uvas desta colheita e culpam a importação de vinho espanhol a custo reduzido. Na manifestação que aconteceu esta semana na Régua, pediu-se maior fiscalização para os grandes operadores.
Alfeu Amado mostra com orgulho as vinhas que cuida no concelho da Meda. É já a quarta geração de viticultores na família e pode muito bem ser a última.
Na Régua, a meio da semana, entre centenas e centenas de viticultores, eram muito poucos os novos. O abandono das vinhas e a ameaça à paisagem, considerada património mundial, é mais realidade do que muitos querem acreditar.
O país tem na viticultura um motor económico. A atividade significa 3 mil milhões de euros de atividade económica e mais de 43 mil postos de trabalho.
O país produziu, em 2023, 7,5 milhões de hectolitros e consumiu apenas 5,5 milhões de hectolitros. Podia ser aqui que estaria a responsabilidade de haver excedente de stocks, mas não... porque o país está em posição em grandes mercados mundiais, exportando, atualmente, 3,2 milhões de hectolitros. Mas a porta de saída é a mesma de entrada. Em 2023, o país importou 3 milhões de hectolitros.
Contas feitas, o país ficou dentro de portas com 1,8 milhões de hectolitros de vinho sem destino. A livre comercialização entre países da União Europeia legaliza o sistema.
Ofertas não faltam e são tentadoras, de 38 a 83 cêntimos por litro, para uma região de montanha onde os custos de produção chegam a ser superiores em algumas gamas de vinho.
A questão que não é legal é que estas uvas ou mosto, que chegam de fora do país, são depois vendidas como produtos da região.
A solução imediata para eliminar o excesso de stock a tempo de minimizar os impactos na próxima campanha foi a destilação de crise, fazer de vinho bom, aguardente para a indústria alimentar, mas o que devia ser excecional tornou-se cíclico.
Portugal, de brandos costumes, começa, agora, a ensaiar a revolta. Os primeiros sinais foram dados na Régua, com a manifestação que quase saiu do controlo dos organizadores. O trânsito chegou a ser cortado e a GNR teve de reforçar o efetivo. No final, todos acabaram por desmobilizar, mas há menos de um ano, França foi obrigada a rever a forma como controlava a entrada de vinho estrangeiro depois de cenas como esta.
Viticultores do Douro em protesto contra corte na produção
Pela mais marcante região de vinho de Portugal, a promessa é uma nova manifestação caso o Governo não reforce medidas que impeçam que muitos destes viticultores fiquem sem solução para as uvas da campanha deste ano.