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ANÁLISE

Falta de investimento do SNS na prevenção de doenças: "Vamos acabar a ser um país de velhos, gordos e doentes"

O médico e comentador da SIC, Francisco Goiana da Silva, analisou a entrevista do diretor-executivo do SNS ao semanário Expresso e considera que António Gandra d'Almeida está a dar um "passo demasiado grande" ao dizer que o Plano de Inverno já está feito. Pede ainda ao Governo que seja "mais transparente" quanto às listas de espera das cirurgias oncológicas e recorda que primeiro é preciso investir em evitar que as pessoas desenvolvam cancro.

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O diretor-executivo do Serviço Nacional de Saúde volta a ser tema de conversa no habitual espaço de comentário do médico e comentador da SIC, Francisco Goiana da Silva.

António Gandra d'Almeida avançou, em entrevista ao semanário Expresso, que “o Plano de Inverno [para a Saúde] já está feito”. Esta segunda-feira, a ministra da Saúde disse que, afinal, este mesmo plano ainda não está terminado e só deverá estar concluído no final deste mês.

"Eu acho que aqui, talvez o diretor Executivo tenha dado um passo demasiado grande, ao comprometer-se com um plano que está demasiado pronto, demasiado cedo", considera Francisco Goiana da Silva.

Para o médico e comentador da SIC, existem algumas questões essenciais que ficaram por esclarecer na entrevista concedida por António Gandra d'Almeida.

O que muda no Plano de Inverno face ao Plano de Verão? O planeamento será novamente referente a três meses? As maternidades vão continuar a ser alvo de encerramentos? As recomendações da Comissão Nacional da Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente (CNSMCA) vão ser integradas no mesmo plano?

Durante os meses de inverno, a Direção-Executiva do SNS vai apostar na vacinação “em massa” contra a covid-19 e a gripe. Francisco Goiana da Silva espera que se consigam alcançar números iguais ou superiores aos obtidos, no ano passado, quando a administração das duas vacinas passou a estar disponível nas farmácias portuguesas.

Listas de espera: Gandra D'Almeida é cauteloso e não avança números

Nas últimas semanas, a ministra da Saúde e o Governo têm congratulado a diminuição das listas de esperas das cirurgias oncológicas. Segundo Ana Paula Martins, desde abril o número de doentes operados passou para os 20 mil, a maioria graças ao Serviço Nacional de Saúde (SNS).

Francisco Goiana da Silva alerta para a necessidade do Governo apresentar números concretos e revelar os custos provenientes deste investimento.

"Precisamos que haja mais transparência por parte do Ministério da Saúde, que sejam partilhados os números não só relativos ao OncoStop, aos doentes e às listas de espera cirurgias mas a todos os outros doentes e todas as outras listas de espera."

"Quanto custou a iniciativa do OncoStop? Estamos a pagar muito mais aos médicos. Qual foi o custo desta iniciativa e desta priorização política e não clinica de todos os doentes oncológicos face a outros doentes que podem também ser urgentes ou mais urgentes ainda do que alguns doentes com cancro?", questiona o médico e comentador da SIC.

"Vamos acabar a ser um país de velhos, gordos e doentes"

Para Francisco Goiana da Silva, o Serviço Nacional de Saúde (SNS) está demasiado preocupado com o "imediatismo" enquanto a "raiz do problema" continua por resolver.

Como explica o comentador da SIC, Portugal é o país com maior prevalência de diabetes na Europa, pelo menos um terço da população portuguesa tem excesso de peso e é um dos principais consumidores de álcool na Europa.

O elevado consumo de sal, o sedentarismo e o tabaco são outros problemas que contribuem para o aumento do número de doentes oncológicos e que, na opinião de Francisco Goiana da Silva, devem ser uma prioridade para o Serviço Nacional de Saúde (SNS).

"Como é que nós queremos resolver no futuro o problema das listas de espera se não estamos a investir em evitar que as pessoas desenvolvam cancro. O problema só vai crescer e vamos acabar a ser um país de velhos, gordos e doentes".