O "abanão" surpreendeu (e acordou) Portugal. O sismo de 5,3 na escala de Richter não provocou feridos, mas assustou crianças, adolescentes e adultos. De seguida, multiplicaram-se relatos e desabafos de pais nas redes sociais sobre medos de uma possível catástrofe e dúvidas em relação a como proteger os filhos, que acordaram assustados e "com o coração a bater muito rápido". Uns relatam que não conseguiram "voltar a pregar olho" com receio das réplicas. Outros partilharam desabafos sobre a "imprevisibilidade" da vida e de como tudo pode mudar de um momento para o outro.
Mas como devo proteger emocionalmente os meus filhos durante um sismo? Posso mostrar que estou assustado? Se se questionou, este artigo é para si. A SIC falou com duas psicólogas. Ambas defendem que o mais importante é passar segurança às crianças.
O abalo de um sismo pode ser "assustador", mas o susto pode ser "atenuado" com a intervenção dos pais, refere Ana Isabel Lage Ferreira, psicóloga clínica e educacional e membro da direção da Ordem dos Psicólogos Portugueses.
Muitas vezes, não são os fenómenos em si que provocam medo e angústia às crianças, é a forma como os adultos agem, acrescenta. A informação partilhada deve ser "pensada e gerida" pelos pais tendo em conta o nível de compreensão das crianças.
O importante é que as crianças sintam que a casa é um "castelo" e que os pais são "protetores", destaca Bárbara Ramos Dias, psicóloga clínica, especialista em crianças e adolescentes e autora dos livros "Respostas Simples às Perguntas Difíceis dos Nossos Filhos”, “Guia de Cabeceira para Pais Desesperados” e “Consegues Tudo o Que Queres”.
"As crianças são o espelho dos pais. Pais ansiosos têm, por norma, filhos ansiosos. Por norma, ajudo os pais a lidarem com a própria ansiedade para depois ajudarem os filhos", exemplifica.
Então, o que devo fazer?
Num momento de susto, passar segurança às crianças é o mais importante, defendem as duas psicólogas ouvidas pela SIC Notícias.
A segurança "emocional e interna", a sensação de que "está ali alguém que as pode proteger", é mais importante para as crianças do que o sismo em si, destaca o membro da direção da Ordem dos Psicólogos Portugueses.
Na mesma linha, Bárbara Ramos Dias explica que os pais devem tranquilizar, dar segurança e abraçar as crianças para que estas sintam que "estão o mais seguras possível".
Mesmo que os pais se sintam ansiosos e com receio da catástrofe, o importante é transmitir "segurança e proximidade" às crianças, que se podem estar a sentir "indefesas", reforça Ana Isabel Lage Ferreira. "A casa é segura" e "estás com o pai e com a mãe, vamos-te proteger" são dois exemplos do que os pais podem dizer aos filhos.
Se forem questionados, os pais devem responder de forma clara, simples, direta, sem alarmismos e adequada à idade, indicam as duas psicólogas. Ana Isabel Lage Ferreira acrescenta que os adultos devem pesquisar em fontes fidedignas e "recolher e transmitir" a informação "estritamente necessária".
Os simulacros organizados nas escolas são igualmente importantes para que as crianças se sintam "empoderadas", defendem as especialistas.
"Se a criança souber agir em caso de sismo, melhor vai ser do ponto de vista psicológico e emocional", refere Ana Isabel Lage Ferreira.
Para as crianças mais velhas, os pais podem até organizar um "simulacro caseiro", sugere a psicóloga clínica e educacional, de forma a sublinhar que a casa é um "lugar seguro" e que vão "lidar com o sismo juntos enquanto família".
E o que não devo fazer?
A sensação de "vulnerabilidade emocional" é "muito mais prejudicial" do que a sensação de que se poderá magoar, descreve o membro da direção da Ordem dos Psicólogos.
Ana Isabel Lage Ferreira sublinha que ao mostrarem preocupação, alarmismo, ao verem notícias e comentá-las em frente às crianças, os pais podem estar a provocar medo e angústia. Também Bárbara Ramos Dias defende que ir pesquisar à internet é estar a "alertar ainda mais".
Uma vez que alarmismos criam mais insegurança, os adultos não devem transmitir informação que não foi pedida. Vão estar a "trazer mais ruído" mais a criança.
A autora dos livros "Respostas Simples às Perguntas Difíceis dos Nossos Filhos”, “Guia de Cabeceira para Pais Desesperados” e “Consegues Tudo o Que Queres” refere que é também importante escolher as palavras certas. Os pais não devem referir as palavras "medo" e "tsunami".
"Devemos desdramatizar. As crianças podem ficar, por exemplo, com medo de dormir sozinhas", acrescenta Bárbara Ramos Dias.
O sismo de magnitude 5,3 na escala de Richter foi registado às 05:11 de segunda-feira. Teve epicentro a 58 quilómetros a oeste de Sines.
O abalo teve uma intensidade máxima de IV/V na escala de Mercalli, classificada como moderada a forte, sendo seguido de pelo menos quatro réplicas.
Este foi o maior sismo na região de Lisboa dos últimos 55 anos. Não há registo de vítimas.