Ainda não se sabe ao certo como é que a fuga dos cinco reclusos da prisão de Vale de Judeus, em Alcoentre, foi planeada, mas para o jornalista da SIC, Luís Maia, é “indiscutível” que tiveram de conjugar esforços para conseguir sair da prisão.
“Pode haver um cérebro, mas garantidamente há uma conjugação de esforços. Tem de haver com certeza até porque cada um deles tem de ter uma missão neste grupo . Eles não se levaram uns aos outros para fora da prisão por amizade, porque são impecáveis uns com os outros lá dentro."
“Planear uma fuga qualquer pessoa pode planear, executar não é assim tão simples”
Esforços esses que em entrevista à SIC Notícias, Luís Maia explica que se tratam de oferecer algo em troca da sua participação. “Alguém teria, eventualmente, mais dinheiro cá fora, porque é preciso acesso a dinheiro para fugir, alguém teria mais acesso a mercenários, a cúmplices, a armas (...) ter mais facilidade em arranjar documentos falsos para saírem para outro sítio qualquer”.
“É preciso perceber que esta fuga da prisão não é uma fuga como, por exemplo, outras que assistimos em que há um recluso que salta um muro, parte uma perna (...) e em três horas é detido (...) Todos eles já tinham tentado fugas, ou quase todos eles já tinham tentado fugas. Quase todos eles tinham ainda muitos anos de prisão para cumprir e há quem diga, também no meio prisional, que o cidadão da Geórgia, por exemplo, não estaria planejando fugir com os outros reclusos e terá acabado por perceber que os outros estavam a fugir e aproveitou a boleia. Não sabemos se é verdade, se não”, acrescenta.
Aliado aos recursos está também o apoio fora da prisão que é fundamental. “Ninguém tem uma fuga bem sucedida da prisão se não tiver dinheiro. Onde é que tu vais dormir? O que é que vais comer? Como é que tu te vais deslocar? Isto não se consegue de borla. ”
“O que me parece estranho é que só agora se acorde para esse problema”
Questionado sobre se este caso, tendo em conta a dimensão que ganhou e a polémica que está a ter, vai servir para mudar alguma coisa nas cadeias, respondeu que o que acha estranho é que “só agora se acorde para este problema”.
“Há muita coisa que está mal no sistema prisional há muito tempo e percebeu-se agora que há algumas coisas que estão mal porque é aquela história de temos uma série de objetos de valor dentro de casa, temos ouro pendurado nas paredes, nos cabides, e depois há um dia que entram lá dois assaltantes e levam aquilo tudo. Vamos lá por um sistema de alarme aqui. É quase o mesmo.”
Luís Maia acompanhou de perto a fuga de três reclusos da prisão de Caxias em 2017. O jornalista da SIC explica que também essa foi uma fuga organizada. Tratavam-se de dois cidadãos chilenos e um israelita que cerraram as grades da cela e acabaram sair da prisão. Os dois homens de origem chilena foram apanhados no aeroporto com documentos falsos enquanto que o terceiro está em parte incerta.