País

Não há transportes públicos, nem sequer mercearia: o isolamento dos idosos no Interior do país

A Guarda é dos distritos referenciados com mais idosos sozinhos e isolados. Na aldeia de Açores, Purificação Rodrigues, de 95 anos, queixa-se de que "não há nada".

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O isolamento é dos mais graves problemas que os idosos enfrentam. É em aldeias pequenas e envelhecidas que são mais evidentes as vulnerabilidades dos mais velhos.

Por exemplo, na aldeia de Açores, no distrito da Guarda, não há mercearia nem autocarros frequentes e os idosos ficam ainda mais dependentes.

Açores em pleno continente. A aldeia ganhou o nome por causa das aves migratórias. Com menos de 200 habitantes, nem sequer é uma ilha, porque o interior está todo deserto.

“Dantes, era tanta mocidade que se via aí (...). Hoje, foi uma única rapariga à missa”, diz Purificação Rodrigues, de 95 anos.

A Guarda é dos distritos referenciados com mais idosos sozinhos e isolados. Valem as exceções que confirmam a regra.

“Enquanto tiver os meus cinco sentidos, fico na minha casinha”, sublinha Purificação Rodrigues, que recusa ir para um lar, onde “já ficaram três irmãs” suas.

Quando os filhos estão longe e a saúde é pouca, a solidão prevalece. Em terras assim, ainda é o presidente da junta que está por perto e ajuda.

Com pouca gente, não se investe numa rede pública de transportes. A mobilidade ou a falta dela agrava o isolamento.

O transporte a pedido já está em fase experimental, no concelho de Celorico da Beira, mas ainda não resolve tudo.

"Falta cá muita coisa nesta aldeia”, reclama Purificação. “Hoje não há cá nada.”

Lúcida e exigente, aos 95 anos. Na aldeia que não é uma ilha, a menos que falemos de vitalidade, a caminho de completar um século.