O fenómeno catastrófico vivido em Espanha na terça-feira foi resultado de depressões no Mediterrâneo, que provocaram a ascensão do ar, por sua vez quente, devido às temperaturas anormalmente quentes da superfície da água do mar, explicou à SIC Notícias Filipe Duarte Santos. Esse ar quente e húmido foi empurrado para terra, onde simultaneamente se encontrava uma massa de ar frio em altitude. Com a subida desse ar, prosseguiu o especialista, deu-se a condensação.
"O vapor de ar passou da fase líquida, ou até diretamente à fase sólida como foi o caso das bolas de granizo que caíram e foram muito destrutivas em Espanha", acrescentou.
O especialista acrescentou que a rápida condensação do vapor de água trazido do Mediterrâneo gerou chuvas torrenciais que excederam em muito os registos históricos na região de Valência.
“As precipitações foram mais do dobro do que é típico na região ao longo de um ano inteiro. A zona já tinha antecedentes de temporais intensos com trovoadas e chuvas fortes, mas agora estes fenómenos são muito mais intensos e extremos, e o intervalo de retorno – ou seja, a frequência com que acontecem – tem diminuído.”
Enquanto a região de Valência enfrenta inundações severas, o Algarve e o sul de Portugal lidam com uma seca prolongada, situação também observada na Andaluzia.
“Estamos a observar fenómenos extremos em várias partes do mundo, e teremos de nos adaptar a essa nova realidade”, frisou Filipe Duarte Santos, acrescentando que as condições de seca e de precipitações intensas estão, sim, interligadas, e são ambas impulsionadas pelo aquecimento global.
Segundo o investigador, uma das consequências mais preocupantes do aquecimento das águas superficiais do oceano é o aumento da intensidade dos ciclones tropicais, que estão agora a atingir latitudes mais elevadas.
“O clima é, em grande parte, um resultado da interação entre o oceano e a atmosfera. A maior parte do excesso de energia térmica vai diretamente para os oceanos, o que torna os temporais mais frequentes e violentos,” alertou, referindo que fenómenos extremos semelhantes ao DANA poderão, no futuro, ocorrer em Portugal, com inundações intensas e até destrutivas.
Filipe Duarte Santos acrescentou ainda que, no caso de Espanha, as autoridades ficaram ligeiramente aquém no que toca aos alertas preventivos, um fator que poderá ter agravado o impacto nas populações afetadas.