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Direção do CES concluiu processo de inquérito sobre denúncias contra Boaventura

Três investigadoras que passaram pelo CES da Universidade de Coimbra denunciaram situações de assédio, o que levou a que os investigadores Boaventura de Sousa Santos e Bruno Sena Martins acabassem suspensos de todos os cargos que ocupavam no centro, em abril de 2023.

Direção do CES concluiu processo de inquérito sobre denúncias contra Boaventura
Gonçalo Rosa da Silva

A direção do Centro de Estudos Sociais (CES) disse que está concluído o processo prévio do inquérito de averiguações a denúncias a Boaventura de Sousa Santos, acusado de assédio sexual e moral por investigadoras.

A informação foi dada em comunicado pela direção do CES depois de Boaventura de Sousa Santos ter anunciado, na terça-feira, que renunciou aos cargos no CES, inclusive ao título de diretor emérito do centro da Universidade de Coimbra (UC), do qual é sócio fundador.

O investigador teceu críticas à direção, queixando-se de ser ameaçado e perseguido, e ameaçando com um processo.

Três investigadoras que passaram pelo CES da Universidade de Coimbra denunciaram situações de assédio, o que levou a que os investigadores Boaventura de Sousa Santos e Bruno Sena Martins acabassem suspensos de todos os cargos que ocupavam no centro, em abril de 2023.

O CES acabou por criar uma comissão independente para averiguar as denúncias, tendo divulgado o seu relatório quase um ano depois, em 13 de março de 2024, que confirmou a existência de padrões de conduta de abuso de poder e assédio, por parte de pessoas em posições hierarquicamente superiores, sem especificar nomes.

Em comunicado, o CES diz que as acusações levantam um "conjunto de questões e suspeitas relativamente ao processo prévio (e a sua condução), iniciado na sequência da divulgação do relatório da comissão independente e do posterior e espontâneo levantamento do anonimato de pessoas denunciantes".

A direção do CES esclarece que "o processo prévio foi concluído e o respetivo relatório entregue à direção do CES", sublinhando que "qualquer ação subsequente é supervenientemente inútil".

Na nota, explica que em todo o processo, "mantiveram o compromisso e o rigor formal e a garantia de que as pessoas denunciadas teriam a possibilidade de serem ouvidas".

Esclarece igualmente que a equipa assegurou sempre que as pessoas denunciadas tivessem a possibilidade de abordarem os elementos que entendessem, destacando que a direção sempre se pautou por "padrões de conduta e reserva e discrição, não sendo revelada a existência de pessoas denunciadas ou a sua identidade".

A direção diz ainda continuar a reconhecer como "válidas e relevantes as conclusões e recomendações contidas no relatório da comissão independente, estando comprometida com o desenvolvimento e implementação de uma política eficaz de prevenção e combate a todas as formas de assédio".

Boaventura fala em acusações infundadas

Em comunicado enviado na terça-feira à agência Lusa, o investigador Boaventura de Sousa Santos afirmou ser objeto, há 18 meses, de um duro processo de acusações infundadas contra o seu bom trabalho profissional.

"Desde o início deste processo flagrante contra mim, tornou-se cada vez mais claro que foi orquestrado pela direção do CES e que o seu único objetivo é político. Desde a direção do CES, houve uma clara predeterminação de todas as ações destinadas a exonerar qualquer má prática do centro e a fazer recair a responsabilidade sobre o fundador, ou seja, sobre mim", alegou.

Boaventura de Sousa Santos diz que "não só a direção do CES mentiu" sobre a sua posição, como lhe "negou repetidamente o acesso a qualquer documentação que permitisse compreender" o que lhe é imputado.

O sociólogo referiu ainda ter recebido, nos últimos dias, "ameaças que são inaceitáveis e que conduziram a este desfecho".

Boaventura aludiu ainda ao resultado da comissão de inquérito, que, indica, não determinar qualquer responsabilidade direta sobre si, mas que levou a direção do CES a iniciar "uma perseguição", através de uma "duvidosa iniciativa privada de investigação confiada a advogados, sem quaisquer garantias, sem permitir o acesso às provas ou aos dados existentes e aplicando técnicas contrárias ao Estado de Direito e típicas do direito penal do inimigo".

"Esta situação pode conduzir a responsabilidades penais e civis evidentes por parte da direção do CES e dos próprios investigadores privados, que devem ser levados a tribunal imediatamente", concluiu.