Os partidos estão esta quinta-feira a reagir à declaração ao país do primeiro-ministro em que anunciou 20 milhões de euros para a compra de viaturas da PSP e da GNR. A direita considera que Montenegro teve uma intervenção estranha "estranha" e "caricata". O PS acusa-o de "propaganda política".
IL diz que intervenção foi "muito estranha"
Rui Rocha, presidente da Iniciativa Liberal (IL), defende que não faz sentido ser o primeiro-ministro a anunciar o investimento em viaturas das forças de segurança. Aliás, diz ter "dúvidas" de que fosse própria da ministra da Administração Interna".
O líder considera a declaração "muito estranha".
A Iniciativa Liberal pede ao Governo para esclarecer se a despesa anunciada pelo primeiro-ministro para a compra de mais de 600 veículos para PSP e GNR. acresce ou não à que já estava prevista pelo anterior executivo do PS.
A IL quer perceber se Luís Montenegro estava a anunciar "mais 600 viaturas para as polícias, que acrescem às 714 que já foram adjudicadas", ou se está em causa "a mesma realidade, ainda por cima, diminuindo o número de viaturas de 714 para 600 e o valor investido de 22 milhões para 20 milhões".
"A Lei de Programação Aplicável previa já 20 milhões para equipamento. E, portanto, nós queremos perceber o que é que o senhor primeiro-ministro está a dizer. Está a dizer que vai haver mais meios que acrescem àqueles que já tinham sido adjudicados em fevereiro, ou está a falar dos mesmos meios?", questionou Rui Rocha.
O presidente da IL anuncia que o partido já dirigiu um requerimento à ministra da Administração Interna, Margarida Blasco, para esclarecer esta questão.
Chega considera "caricata" a comunicação
André Ventura considera que o primeiro-ministro veio dizer o que o Chega "já anda a dizer há muito tempo": é preciso "mais e melhor" investimento nas forças de segurança.
O presidente do partido diz que para anunciar os 20 milhões para viaturas "não era preciso convocar o país para as 20:00", uma vez que, no seu entender, poderia ter sido feito pela ministra da Administração Interna à saída do Parlamento.
"Aquela não era intervenção que [Luís Montenegro] queria fazer. Quem aconselhou aconselhou mal e objetivo não foi alcançado", considera.
Pedro Nuno Santos acusa Montenegro de "propaganda política"
Pedro Nuno Santos, secretário-geral do PS, acusa Luís Montenegro de fazer "propaganda política" ao anunciar em horário nobre a compra de 600 veículos para as forças de segurança.
"Aquilo a que assistimos ontem foi instrumentalização da imagem das forças de segurança para benefício da propaganda pessoal", afirma.
O líder do PS frisa que já houve momentos "mais importantes" e que não tiveram direito a uma declaração "tão solene", por isso, acusa o primeiro-ministro de "propaganda política".
Perante os jornalistas, o socialista considera que o tema da segurança “é demasiado importante para ser tratado da forma como foi pelo primeiro-ministro”.
“Foi uma declaração de alguém que quer alimentar uma perceção de insegurança, prendendo cavalgar essa onda. Ora, um primeiro-ministro não alimenta perceções. Deve é antes executar políticas para resolver os problemas das pessoas. Um primeiro-ministro não é diretor da PSP, da PJ ou [comandante] da GNR”, refere o secretário-geral do PS.
BE acusa Montenegro de "números políticos" em conferência de imprensa "vazia"
Mariana Mortágua, coordenadora do Bloco de Esquerda, acusa o primeiro-ministro de "números políticos" e considera que a conferência de imprensa foi "vazia".
"É de uma tamanha irresponsabilidade e desrespeito pelas forças de segurança", diz.
Salienta que as 20:00 é a hora utilizada pelos responsáveis políticos para comunicar matérias importantes ao país.
“E o primeiro-ministro, Luís Montenegro, convoca uma conferência de imprensa em horário nobre para anunciar meios que já estavam contratados para resolver um problema que o próprio diz que não existe na sua declaração que faz ao país às oito da noite. Isto seria caricato. E é. Não fosse ser também grave”, critica Mariana Mortágua.
A líder bloquista diz que é "grave" o Governo estar a "mobilizar meios do Estado" para uma "caça às perceções", acusando-o de "números políticos".
“É uma caça às perceções. É pior que uma caça aos gambuzinhos. E é ainda mais grave porque o primeiro-ministro está a mobilizar meios do Estado na sua caça às perceções”, acusa.
Mariana Mortágua diz ainda o líder do Executivo de ter anunciado resultados de uma investigação que “cabe à PSP e à PJ”.

PCP considera que "nada justifica" a "lamentável" declaração do primeiro-ministro
António Filipe, do PCP, diz que "nada justifica" a "lamentável" declaração do primeiro-ministro às 20:00 para anunciar o investimento nas forças de segurança. Diz mesmo que chega a ser "ridículo".
A partir da Assembleia da República, o comunista não concorda que Luís Montenegro tenha falado ao país "àquela hora" para "anunciar praticamente coisa nenhuma".
O PSP considera a declaração "lamentável", quase como se "fosse um comandante das forças policiais".
"É pouco mais do que uma gota de água relativamente às necessidades de equipamento das forças de segurança".
António Filipe diz que é "ridículo" aquilo que é anunciado [20 milhões de euros] para a aquisição de viaturas.
Neste ponto, o deputado assinala para efeitos de comparação que o orçamento anual de que cada uma das forças de segurança é superior a 1100 milhões de euros e que, por exemplo, o orçamento para o investimento em matéria de instalações e equipamentos é de 157 milhões de euros, “o que aliás é um decréscimo relativamente ao previsto em anos anteriores”, remata.
O primeiro-ministro, Luís Montenegro, anunciou na quarta-feira à noite que o Governo vai aprovar, na quinta-feira em Conselho de Ministros, uma autorização de despesa de mais de 20 milhões de euros para a aquisição de mais de 600 veículos para PSP e GNR.
O anúncio do chefe do Governo foi feito no dia em que a Polícia Judiciária lançou uma megaoperação no concelho de Loures, na sequência dos distúrbios na Grande Lisboa.
Falou ao país a partir da residência oficial, em São Bento, com as ministras Rita Júdice (Justiça) e Margarida Blasco (Administração Interna), os diretores de PSP e PJ, Luís Carrilho e Luís Neves, respetivamente, e o comandante-geral da GNR, Rui Veloso.