Royal, que se mudou para Lisboa com a família há cinco anos, conta que o clima e as pessoas o fizeram sentir-se em casa. No entanto, a recente operação da Polícia de Segurança Pública trouxe-lhe um sentimento novo: o medo.
"Foi a primeira vez que fizeram isto. Senti muito medo. Não podem tratar as pessoas assim, encostadas à parede. Não fazemos nada de errado aqui. Temos uma loja e trabalhamos", disse.
Apesar do impacto da operação, a comunidade tenta seguir em frente. Este ano, celebra-se o 53.º aniversário do Dia da Vitória, marcado pela independência do Bangladesh após a guerra contra o Paquistão. Em Lisboa, como acontece noutras cidades com comunidades do Bangladesh, a data será celebrada com uma festa com música, comida e um convite aberto a todos.
Na movimentada Rua do Benformoso, a vida continua. Os portugueses continuam à procura de pratos típicos e novos sabores, enquanto os imigrantes procuram produtos tradicionais, difíceis de encontrar noutras áreas da cidade. Adnan, um cidadão paquistanês, que passava pelo Martim Moniz para comprar alguns desses produtos criticou a operação policial.
"É uma falta de respeito. Ainda bem que não estava aqui, senão teria ido ao tribunal apresentar queixa", afirmou.
Uma residente portuguesa também se mostrou indignada:
"Há uma discriminação absurda. Tentaram entrar na minha casa há dias, e a polícia nem apareceu. Mas para ir a bairros sem motivo, só à procura de violência, já vão." Apesar disso, assegura sentir-se segura na zona, enquanto procurava um restaurante de comida asiática: "O mundo é de todos, seja pela comida ou pela cultura."
Para este domingo, a comunidade do Bangladesh, que tradicionalmente comemorava o Dia da Vitória num ambiente privado, organizou uma festa aberta ao público, com o objetivo de partilhar a cultura e combater preconceitos.
"Queremos mostrar a cultura do Bangladesh aos portugueses", afirmou Rana, um dos organizadores.
A comunidade do Bangladesh em Portugal é composta por cerca de 60 mil pessoas, das quais 20 mil vivem no centro de Lisboa.