O relatório Estado da Educação 2023, divulgado na terça-feira, alerta para as dificuldades de aprendizagem dos alunos e reconhece que a educação em Portugal tem ainda um longo caminho a percorrer. Domingos Fernandes, presidente do Conselho Nacional de Educação, o organismo que desenvolveu este estudo, considera que a questão estrutural é "a qualidade das instituições para que todos os alunos tenham condições para aprender".
“Há um conjunto naturalmente complexo de razões que levam a que um número significativo de alunos não esteja a aprender aquilo que se espera e aquilo que o país espera. Algumas dessas razões têm a ver com a qualidade da organização e do funcionamento das instituições escolares e com a ênfase que damos aos aspetos fundamentais, como os conhecimentos desenvolvidos na formação inicial e contínua de professores”.
Para o presidente do Conselho Nacional de Educação, os conhecimentos pedagógicos são tão importantes quanto os conhecimentos específicos das disciplinas.
“Os conhecimentos pedagógicos são absolutamente fundamentais. Como a UNESCO recentemente sublinhou, são essenciais para inovar e reconfigurar as formas de trabalhar, os conteúdos que os alunos têm de aprender".
A base do sucesso: os primeiros anos de escolaridade
Os problemas detetados em disciplinas fundamentais, como matemática e português, são motivo de preocupação. Domingos Fernandes destaca a importância de intervir nos primeiros anos de escolaridade.
“Sobretudo nos primeiros anos, o país tem de dar muito mais atenção ao ensino e à aprendizagem. No segundo ano de escolaridade, 56% dos alunos revelam problemas ao nível da escrita e da leitura. Quando as crianças têm grandes problemas nestas áreas, vai ser muito difícil aprenderem matemática ou outras disciplinas, porque lhes falta a base fundamental, que é o domínio da língua.”
Domingos Fernandes defende a criação de um programa específico para melhorar o ensino nos primeiros anos: “Sem essa base, é muito difícil que um conjunto significativo de alunos progrida de acordo com o esperado”
A falta de professores
Outro ponto crítico mencionado no relatório é a falta de professores, uma das mais acentuadas a nível europeu.
“É um problema grave que tem de ser atacado. Penso que vai ser resolvido, mas é necessário um esforço conjunto para garantir que as escolas têm os recursos humanos adequados”.