O primeiro-ministro português, Luís Montenegro, entende que os países da União Europeia (UE) devem reforçar o investimento na segurança e defesa de forma "coordenada". Já sobre as ameaças comerciais de Donald Trump, o representante português na cimeira de líderes da UE considera que não beneficiam a economia norte-americana.
À margem do encontro informal de líderes da União Europeia, que se realiza esta segunda-feira em Bruxelas, o chefe do Executivo afirmou que o reforço de investimento na segurança e defesa dos Estados-membros da UE deve ser "coordenado" e sem "redundâncias".
"Creio que o Plano de Recuperação e Resiliência nos mostrou que é possível, de forma coordenada e comum, os Estados fazerem investimentos ao mesmo tempo e é importante também que as regras de estabilidade que estão definidas para as nossas finanças não possam ser incomodadas por uma matéria que é tão específica e que está hoje tão prevista e assumida num compromisso temporal curto", afirma.
Montenegro disse ainda que o Governo já criou uma 'task force' entre o Ministério da Defesa e o Ministério da Economia com vista à incrementação de novas indústrias de defesa.
Novas tarifas de Trump "não beneficiam economia dos EUA"
Questionado sobre as novas tarifas impostas por Donald Trump, presidente dos EUA, o primeiro-ministro português referiu que as mesmas "não beneficiam a economia dos Estados Unidos".
Insistiu ainda que os EUA são "um parceiro comercial e político de primeira linha" da Europa.
"E não há razão para nós não termos capacidade de demonstrar com argumentação as virtudes de termos trocas comerciais que não estejam marcadas por uma excessiva carga tarifária", referiu.
O chefe do Executivo garantiu que as ameaças de Trump, que pondera avançar com tarifas sobre os produtos europeus, estão a ser "levadas a sério".
A situação económica da UE
Como o magnata foi eleito "na base do voto popular", Montenegro entende que as posições do Presidente norte-americano devem ser respeitadas.
"A minha convicção é que o diálogo político deve ser a chave para podermos ter condições económicas para ter boas taxas de crescimento, quer nos Estados Unidos, quer na Europa", sublinhou.
O primeiro-ministro português alertou ainda que um eventual aumento de tarifas levará ao aumento de preços nos países do velho continente.
Apesar de assumir que a economia europeia atravessa um momento de fragilidade, Montenegro lembrou que a UE continua a ser, "do ponto de vista da inovação, do conhecimento, da capacidade da nossa indústria transformadora, um bloco comercial competitivo à escala global."
"A Europa tem de estimular a sua própria capacidade de industrialização e de produção. A Europa tem à sua frente anos onde terá de desenvolver as suas capacidades de inovação, de investigação, e terá de se conformar, do ponto de vista interno, com regras de financiamento que possam alavancar o investimento", acrescentou.
Encontro foi promovido por António Costa
Ao final da manhã desta segunda-feira, arranca no Palácio d'Egmont (local independente e que não pertence a qualquer instituição europeia), em Bruxelas, o primeiro retiro de chefes de Governo e de Estado da UE, numa iniciativa de António Costa, que tomou posse em dezembro passado, para promover o diálogo informal entre os altos responsáveis europeus sem a pressão de chegar a conclusões ou decisões, como acontece nas cimeiras europeias regulares.
Portugal está representado pelo primeiro-ministro, Luís Montenegro, e entre os participantes estão também o secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO), Mark Rutte, e o primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer, com a UE a tentar reforçar as parcerias internacionais e construir uma Europa mais forte e mais autónoma na área da defesa.
Dados da Agência Europeia de Defesa revelam que, entre 2021 e 2024, a despesa total com a defesa dos Estados-membros da UE aumentou mais de 30%. Só em 2024, estima-se um valor de 326 mil milhões de euros, o equivalente a cerca de 1,9% do Produto Interno Bruto (PIB) da UE.
Prevê-se que as despesas aumentem em mais de 100 mil milhões de euros em termos reais até 2027.