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Crise na habitação obriga famílias a ter de escolher: pagar a renda ou comprar comida

A escolha entre pagar uma renda ou garantir comida na mesa é uma realidade que afeta cada vez mais pessoas e que continua sem uma solução à vista.

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Nos últimos anos, o preço das rendas disparou, o custo de vida aumentou e os salários não são suficientes para fazer face às despesas. Esta é a realidade de muitas famílias portuguesas.

É o caso de Anabela e Mário. Com quatro filhos e um neto de apenas um ano receberam uma ordem de despejo com 15 dias de antecedência.

Mário esteve emigrado durante sete anos para garantir uma vida estável à família, mas regressar a Portugal com apenas um salário mínimo e o elevado custo das rendas deixa-os sem dinheiro para as despesas básicas.

Diz quem já tem meia idade que a dificuldade é arranjar emprego: “Quando tu dizes a idade, és velha para aquele tipo de trabalho, mas és nova para estar sem trabalhar. E Eu farta de andar a bater de porta em porta, a pedir quase por favor para me darem trabalho, fiquei em casa, pronto”, diz Anabela.

Segundo os dados mais recentes da DECO Proteste, em 2023, três em cada quatro famílias portuguesas tinham dificuldades em pagar as contas, sendo que 49% tinha problemas no pagamento das despesas de habitação e 42% na compra de bens alimentares. Para estas famílias, os apoios do Estado são insuficientes.

“O meu maior medo é não conseguirmos e eles serem entregues ao Estado, mas para serem entregues ao Estado, para nos ajudarem a nós, não têm… mas para darem mil e tal euros ao EStado ou a uma instituição, para acolher cada uma das crianças já conseguem dar. É isso que revolta, desses mil e tal euros, se dessem metade à família que está a passar necessidades, havia muita família que tirava o pé da lama”, diz Anabela.

“É os miúdos a minha grande preocupação sobretudo. Porque eu costumo dizer, a gente passa com qualquer coisa. Eu com uma sandes passo, a Anabela a mesma história. Agora os miúdos não, têm de comer. Principalmente um bebé tem de comer”, diz Mário.

O futuro é incerto. Com uma renda de 700 euros e apenas um salário mínimo para sustentar sete pessoas surge o receio de ver o frigorífico vazio.

Esta história não é um caso único. Todos os dias, várias famílias portuguesas enfrentam o dilema de escolher entre pagar um teto ou sobreviver.