"Pesca de arrasto" poderia ser um título para o artigo que o almirante na reserva decidiu enviar ao semanário Expresso, ao jeito de quem se apresenta ao país. Na hora do voto, tudo o que vier à rede é peixe, porque o almirante autodefine-se como o verdadeiro homem do centrão, ao dizer que se situa entre o Socialismo (sem especificar de que tipo) e a Social Democracia, defensor da "democracia liberal em que vivemos como regime político".
E aproveita a maré para dizer que "é imperativo que façam uma autorreflexão profunda, para recuperarem a confiança e credibilidade junto da população."
Afasta-se ainda mais quando fala numa ameaça de "transformar a Presidência num apêndice dos interesses partidários", defendendo que o chefe de Estado deve ser "independente de lealdades partidárias", numa referência indireta, mas assumida, contra o candidato que o PS vier a apoiar e contra Marques Mendes, apoiado pelo PSD, a quem atira que "as pontes" que este veio defender "não se constroem sobre redes de influência, compadrios ou intrigas político-partidárias."
Para os poderes presidenciais, anuncia uma novidade: "convocar eleições antecipadas em caso de desfasamento grave entre os objetivos-prática do Governo e a vontade previamente sufragada pelo povo", acabando com as dúvidas de que navega já nas águas duma candidatura presidencial.
E até afirma que "o Presidente, quando fala, não é um cidadão comum, é a República a expressar-se." Não parece que restem dúvidas que é uma provocação a Marcelo, sobretudo, quando acrescenta que, para usar a palavra, o presidente tem a obrigação de respeitar regras como a relevância ou a contenção.
Quanto à única concordância com o atual inquilino de Belém, recusa a intolerância que pode comprometer a própria democraciaou uma forma de dar um 'chega para lá' a André Ventura.