Há menos de dois anos, a TAP percebeu que uma das peças compradas para o motor de um avião apresentava sinais de desgaste. Preocupada com a situação, a companhia alertou a Agência Europeia da Segurança da Aviação e apresentou uma queixa por fraude ao Ministério Público.
Foi então que teve início a investigação da Polícia Judiciária, por suspeitas dos crimes de corrupção, burla qualificada, falsificação de documentos, administração danosa, atentado à segurança no transporte por via aérea, branqueamento de capitais e fraude fiscal.
A investigação visava três suspeitos: um ex-funcionário da TAP, com responsabilidades na área das compras de peças, que terá sido subornado, e dois empresários do setor da venda de materiais aeronáuticos. Todos foram detidos esta quarta-feira.
Fornecedor de peças usava certificados falsos
A própria TAP não escapou às buscas, que foram acompanhadas pela agência antifraude britânica. Em 2023, esta mesma agência já tinha detido José Alejandro Zamora Yrala, o alegado cérebro de um esquema criminoso com contornos de escândalo mundial.
Antes de se dedicar ao negócio da aviação, Zamora Yrala era DJ e produtor musical. Começou a vender peças usadas para aviões da Boeing e da Airbus como se fossem novas.
Ter-se-á aproveitado da influência do pai, um dos barões da AD, partido político venezuelano, para construir uma rede de contactos que lhe permitiu fundar, em 2015, a empresa AOG Technics e estabelecer relações comerciais com várias companhias aéreas internacionais, incluindo a TAP.
Recorrendo a documentação forjada — que durante anos passou despercebida — e a perfis falsos nas redes sociais, Zamora Yrala conseguiu faturar milhões de euros com a venda de peças para a manutenção de pelo menos 126 motores de aviões comerciais.
Este caso demonstrou o quão fácil era ludibriar os protocolos de segurança aérea internacional e pôr em risco a vida de milhares de passageiros.
American Airlines, Delta Airlines e Ryanair entre os clientes
O empresário, atualmente com 35 anos, apresentava-se como líder global no fornecimento de peças de manutenção para aeronaves.
Na sua carteira de clientes figuravam gigantes como a American Airlines e a Delta Airlines, ambas dos Estados Unidos, e a britânica Ryanair, entre outras companhias aéreas de renome.
A TAP garante que está a colaborar com as autoridades na chamada operação “Voo Cego” e assegura que todos os componentes comprados à empresa de Zamora Yrala foram entretanto substituídos.