A Justiça travou, esta terça-feira, a demolição de barracas no bairro do Talude, em Loures e, agora, a Câmara municipal tem cinco dias para contestar a decisão.Antes da ordem de suspensão, mais de 50 habitações foram destruídas e cerca de 100 pessoas ficaram sem casa.
A câmara de Loures, primeiro, deu ordem para demolição, e, depois, procurou encontrar soluções para os desalojados do bairro do Talude, um bairro clandestino, sem condições, mas ainda assim um tecto para dezenas de famílias. Duas dessas famílias puderam passar uma noite em pensões pagas pela segurança social.
Perante este tipo de soluções, as restantes famílias ou não pediram ajuda, ou não quiseram esperar por eventuais propostas. E quase todos os desalojados acabaram por regressar ao bairro e tentar pôr de pé as barracas demolidas.
Os moradores do bairro receiam agora falar abertamente e os testemunhos revelam as mesmas dificuldades. Sem salários que permitam pagar uma renda de casa ou alugar um quarto, ficam sem alternativa.
Autarquia focada em acabar com habitações ilegais
A decisão do tribunal administrativo de Lisboa, favorável a mais uma providência cautelar para travar as demolições, obrigou a Câmara a mandar parar e a retirar as máquinas do bairro do Talude, mas isso só aconteceu horas depois da notificação ter chegado.
A Câmara de Loures mostra-se, assim, determinada em travar a proliferação de barracas.
Através de comunicado, a autarquia diz "não aceitar que se consolide a percepção de que a construção ilegal seja uma resposta para os problemas da habitação" e que "a edificação ilegal de barracas não pode ser uma via automática para atribuição de habitação pública".
As associações que defendem os moradores do bairro do Talude dizem que, com as demolições, se criou um problema adicional.
A Câmara de Loures, liderada por um socialista, diz que tem cerca de 1.000 pessoas em lista de espera para habitação pública mas os comunistas, na oposição, acusam a autarquia de desperdiçar fundos do PRR.
O PCP de Loures, em comunicado, acrescenta que, das 850 casas previstas em 2021, não houve uma única que tenha sido entregue.