A ministra da Saúde, Marta Temido, apresentou esta quarta-feira o programa estrutural para dar resposta aos problemas no Serviço Nacional de Saúde (SNS).
Em conferência de imprensa, a responsável pela pasta da saúde anunciou a criação de uma comissão de acompanhamento para o serviço de urgências de obstetrícia e ginecologia. Deste grupo farão parte cinco coordenadores regionais e um a nível nacional, lugar que será ocupado por Diogo Ayres de Campos, diretor do serviço de Ginecologia e Obstetrícia do hospital de Santa Maria.
“O que irá fazer esta comissão? Identificar os recursos disponíveis por hospital e região, aprovar um modelo de articulação dos hospitais de cada região, centralizando, analisando, apoiando a elaboração dos planos de de contingência. Os planos de contingência têm que existir”, disse a ministra.
A comissão também terá “como missão” propor e discutir com as autoridades regionais de saúde a necessidade de colaboração com outros setores – privado e social.
Sobre o concurso que estava anunciado para esta semana, Marta Temido informou que o despacho que determina a abertura de cerca de 1.600 vagas para recém-especialistas seria publicado hoje. Entretanto, o despacho já foi publicado em Diário da República. Mais de 1.100 vagas serão destinadas à área hospitalar, 50 dessas para a especialidade de ginecologia e obstetrícia.
A ministra da Saúde disse ainda que o Governo está empenhado em trabalhar em articulação com a Ordem dos Médicos para reforçar as capacidades formativas do país.
“Precisámos de aumentar a capacidade formativa. (…) No último concurso houve vagas para formação de especialistas que não ficaram preenchidas. Temos um problema de atratividade”, afirmou.
Relativamente às empresas prestadoras de serviço, Marta Temido disse que há recurso excessivo a estas organizações que têm servido para colmatar falhas estruturais e não “em situações pontuais”, como era suposto.
“O Governo está empenhado em contrariar o fenómeno de dependência das nossas instituições em empresas prestadoras de serviço. É uma entorse que tem que ser corrigida”, referiu.
Questionado sobre a sua continuidade no cargo e tendo em conta a degradação do SNS e as críticas de que tem sido alvo, Marta Temido disse que decide continuar a lutar.
Aberta a possibilidade de contratar e formar médicos no estrangeiro
Em resposta aos jornalistas, a ministra admitiu que há a possibilidade de contratar médicos no estrangeiro e disse que “tem a certeza que os médicos não se movem apenas por questões remuneratórias”. Os aumentos salariais para médicos estão a ser discutidos com os sindicatos do setor.
“A questão da melhoria das capacidades formativas é essencial. E depois há outras soluções. Nós não descuramos a hipótese de contratação de médicos no estrangeiro e se tivermos efetivas dificuldades na formação de especialistas cá, equacionar a sua formação noutros países”, disse a ministra da Saúde.
Ainda sobre a possibilidade de recrutar e formar no estrangeiro, a ministra adiantou que há contactos estabelecidos.
“Estamos a fazer alguns contactos — não é nenhum segredo, não é nenhuma reserva – com alguns países no sentido de perceber como é que podemos enfrentar com recursos externos problemas que são problemas do sistema. No passado isso já foi feito em situações específicas e concretas”, disse.
Pelo quinto dia consecutivo há hospitais a anunciar o fecho de urgências de obstetrícia e ginecologia. O caso mais recente é o Centro Hospitalar Barreiro-Montijo, onde o serviço de obstetrícia encerra na quinta-feira à noite e só reabre na sexta-feira.