André Martins, presidente da Câmara Municipal de Setúbal, justifica que Igor Khashin, líder da Associação dos Emigrantes de Leste, foi chamado para o serviço de atendimento a refugiados para que “fizesse a tradução” para os refugiados ucranianos.
Quando questionado sobre o porquê de não ter sido contratado um tradutor, André Martins afirma que a associação em causa trabalha no concelho “há cerca de 10 anos e é reconhecida pelo Alto Comissariado para as Migrações”. Destaca ainda que Igor Khashin é reconhecido na autarquia e que já recorreram várias vezes a este serviço.
Em relação às denúncias de que foram pedidas informações sobre em que região da Ucrânia estão os maridos das refugiada que chegaram a Setúbal, o presidente afirma que “não há provas de que essas questões tenham sido colocadas“. Os refugiados afirmam ainda que os seus documentos foram fotocopiados.
“Eu não ponho as mãos no fogo sobre nada. O que lhe posso garantir é que os serviços da Câmara que estão afetos a esta receção o fazem seguindo um protocolo reconhecido e aceite palas várias entidades da administração central.”
O autarca justifica porque disse ao Expresso que a alegação é falsa: “Naturalmente que tenho que dizer que a alegação é falsa, porque eu não posso admitir que os serviços da Câmara Municipal façam isso, não posso admitir. O que eu reconheço, e que é verdade é que existe um centro que é controlado pelos serviços da Câmara, que é do conhecimento e tem acesso às várias entidades da administração central que trabalham em conjunto com a Câmara e têm acesso a esses dados.”
O autarca destaca que o município de Setúbal tem uma grande comunidade multicultural e que a comunidade de imigrantes de leste é bastante significativa.
Carta enviada ao primeiro-ministro
A autarquia de Setúbal garante ter enviado uma carta ao primeiro-ministro para esclarecer se a Associação de Emigrantes de Leste deveria ser retirada da lista do Alto Comissariado para a Migrações. Teve por base as declarações da embaixadora ucraniana numa entrevista à CNN, onde afirmou que, numa reunião com a secretaria de Estado das Migrações, era necessário alterar a referida lista para retirar as associações pró-Rússia.
“Naturalmente que existe essa lista e nessa lista está reconhecida a Associação de Imigrantes de Leste de Setúbal. Por esse facto, escrevendo uma carta ao primeiro-ministro para nos esclarecer se a afirmação que a senhora embaixadora fez, na conversa que teve com a secretária de Estado, se reconhecia que de facto era necessário alterar a lista para que nós tivéssemos informação sobre essa relação com essa associação”
André Martins sublinha ainda que Igor Khashin não tem um instalações no edifício da Câmara e que a sua mulher, Yulia Khashin, é funcionaria da autarquia depois de ter concorrido a um concurso público. Sobre o afastamento de Yulia Khashin, o presidente afirma desconhecer queixas ou reclamações.
“Esta técnica está há cerca de 20 anos em Setúbal e em Portugal, é de nacionalidade portuguesa, embora com origem ou na Rússia ou na Ucrânia, não sei dizer”, sublinha.
“O que a Câmara de Setúbal fez, com boa fé, no sentido de servir o melhor possível as pessoa que são refugiados e encaminhá-las de acordo com as necessidades que têm, foi encontrar alguém que pudesse, pela língua, fazer a recolha dos dados que são fundamentais para depois encaminharmos para a Segurança Social, o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, para Instituto do Emprego e Formação Profissional.”
Investigação ao serviço de acolhimento a refugiados
André Martins afirma que dirigiu um pedido ao ministro da Administração Interna no sentido de “desencadear todos os mecanismos que considerar adequados para fazer uma investigação ao serviço da Câmara Municipal que tem esta atividade”.
Questionado se a Câmara iria avançar com uma investigação autónoma – como aconteceu no caso da Câmara de Lisboa, depois de terem sido divulgados dados de manifestantes à Embaixada da Rússia -, o autarca afirma que “não faz sentido a Câmara Municipal fazer essa investigação”.
Destaca ainda que “o trabalho de recessão ao refugiados ucranianos é acompanhado por um conjunto de entidades de organizações”, sendo “uma boa parte delas” parte da Administração do Estado. “É esta a credibilidade que nós temos também”, remata.
Russos pró-Putin recebem refugiados ucranianos em Setúbal
Pelo menos 160 refugiados ucranianos terão sido recebidos por Igor Khashin, antigo presidente da Casa da Rússia e do Conselho de Coordenação dos Compatriotas Russos, e pela mulher, Yulia Khashin, funcionária do município setubalense, avançou esta sexta-feira o semanário Expresso.
De acordo com o Expresso, Igor Khashin, líder da Associação dos Emigrantes de Leste (Edintsvo), subsidiada desde 2005 até março passado pela Câmara de Setúbal, e a mulher terão, alegadamente, fotocopiado documentos de identificação dos refugiados ucranianos, no âmbito da Linha de Apoio aos Refugiados da Câmara Municipal de Setúbal.
Igor Khashin é um dirigente associativo com dupla nacionalidade, que se apresenta como “gestor de projetos”, e que as associações a que terá estado ligado estavam nos sites da Ruskyi Mir e da Rossotrudnichestvo, instituições estatais criadas pelo Kremlin.
Os partidos querem que o autarca da cidade, André Martins, do PCP, vá ao Parlamento esclarecer a polémoa. Os comunistas acreditam que a polémica serve para manchar o partido.
A Câmara Municipal de Setúbal garante que apresentou as suspeitas sobre Igor Kashin e a Associação de Imigrantes dos Países de Leste ao primeiro-ministro. Numa nota, António Costa nega que o autarca tenha pedido essas informações.