Mais de mil médicos de família podem pedir a reforma no decorrer do ano 2022. Ao mesmo tempo, dados referentes a 2021 colocam cerca de um milhão de utentes sem médico de família atribuído. João Rodrigues, coordenador do Grupo para a Reforma dos Cuidados de Saúde Primários, sublinha que o “diagnóstico é consensual” e defende que é necessário aliviar a trabalho burocrático dos profissionais de saúde.
“Em 2022, prevê-se a possibilidade de 1.000 médicos de família se reformarem. No ano seguinte, 2023, aproximadamente 400 e depois vai diminuindo nos anos seguintes. Nós estamos a formar 500 recém-especialistas em medicina familiar por ano, se mantivermos esta capacidade formativa podemos colmatar esta lacuna, desde que se faça o que está genericamente programado para este novo ciclo pós-pandemia“, afirma João Rodrigues, em entrevista à SIC Notícias.
Em causa estão vários pontos: criar condições de trabalho para os novos médicos de família, tornar as carreiras atrativas, reformar os novos centros de saúde e a agilizar os processos de digitalização da saúde – de forma a eliminar “imensa burocracias que se traduzem em carga de trabalho desnecessário“.
“Saliento que isto deve ser também programado para outros profissionais de saúde“, prossegue o coordenador do grupo de apoio técnico, referindo-se, por exemplo, aos enfermeiros, nutricionistas e psicólogos, “para que o médico de família possa ser libertado da carga que não lhe diz respeito” e esteja “preparado para faze a prevenção no seguimento das crianças, grávidas, mulheres e no seguimento de patologias crónicas que tanta perda de anos nos dá”.
João Rodrigues defende uma remodelação, de âmbito nacional, que desenvolva “projetos de sistemas locais de saúde, onde é possível ter saúde de maior proximidade integrando cuidados com o hospital, com a rede de ambulatório, contando com outros profissionais de saúde e não só os médicos de família”.
Outra questão que considera importante para libertar o trabalho dos profissionais de saúde é a digitalização da saúde:
“Há várias medidas de simplificação de processos que estão consensualizadas, têm é de ser implementadas”, afirma, sublinhando que Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) está previsto um valor destinado a esta reforma.
Quando questionado se todos os cidadãos precisam de ter um médico de família, João Rodrigues responde que “a grande generalidade precisa“, mas alerta que é necessário “clarificar que tipologia de utentes estão inscritos no registo nacional de utentes”.
“Podemos ter cidadãos que não precisam de um médico de família na sua globalidade e isso pode também, nesta fase transitória, aliviar a carga. Mas deve ser clarificado no processo transparente a nível nacional”, afirma.
Saiba mais:
- Mais de 200 mil portugueses em listas de espera para cirurgia
- Covid-19: médicos de família pedem revisão urgente da organização do combate à pandemia
- Metade das vagas para médicos de família ficou por preencher em Lisboa e Vale do Tejo
- Ordem dos Médicos pede que não se desvalorizem efeitos da covid-19 nas crianças
- Mais de um milhão de pessoas continua sem médico de família