Governo

Quem são as nove ministras do Governo mais feminino da história da democracia portuguesa

O XXIII Governo Constitucional, chefiado por António Costa, vai ser o primeiro na história da democracia portuguesa com mais ministras do que ministros, nove num total de 17.

Quem são as nove ministras do Governo mais feminino da história da democracia portuguesa

No novo Governo de António Costa, há mais mulheres do que homens a liderar ministérios. Seis delas já estavam no atual Executivo, sendo que uma sobe de secretária de Estado a ministra da Justiça, e três são rostos novos, designadamente Ana Catarina Mendes, Helena Carreiras e Elvira Fortunato.

O XXIII Governo Constitucional, chefiado por António Costa, vai ser o primeiro na história da democracia portuguesa com mais ministras do que ministros, nove para oito num total de 17 ministérios.

O elenco do XXIII Governo Constitucional ditou a saída de três ministras – Francisca Van Dunem, Graça Fonseca e Alexandra Leitão – e a entrada de três novas ministras. Destaque ainda para a continuidade de Mariana Vieira da Silva, Ana Mendes Godinho, Marta Temido, Ana Abrunhosa, Maria do Céu Antunes na liderança das pastas da Presidência, Trabalho, Saúde, Coesão Territorial e Agricultura, que já comandavam no atual Governo.

Além das três novas ministras – Ana Catarina Mendes, Helena Carreiras e Elvira Fortunato -, a pasta da Justiça vai passar para as mãos de Catarina Sarmento e Castro que no atual Executivo era secretária de Estado de Recursos Humanos e Antigos Combatentes.

Fique a conhecer as nove ministras do XXIII Governo

Helena Carreiras, a primeira mulher a liderar a Defesa

Nasceu em Portalegre em 1965, é licenciada em Sociologia pelo ISCTE e doutorada em Ciências Sociais e Políticas no Instituto Universitário Europeu, em Florença, com uma tese sobre políticas de integração de género nas Forças Armadas dos países da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO).

Assumiu em julho de 2019 a direção do Instituto da Defesa Nacional (IDN), sendo a primeira mulher a chefiar aquele instituto, e vai cessar funções no IDN pouco depois de cumprir metade dos cinco anos de mandato.

Antes, a professora associada no ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa nas áreas da Sociologia, Políticas Públicas, Segurança e Defesa, e Metodologia da Pesquisa Social, exerceu funções, entre 2010 e 2012, como subdiretora do IDN.

Especialista em sociologia militar, Helena Carreiras assegurou a coordenação científica de um estudo apresentado pelo Ministério da Defesa sobre a satisfação organizacional dos voluntários e dos contratados das Forças Armadas, que recolheu testemunhos de 5.136 elementos do Exército, 1.366 da Forças Aérea e 819 da Marinha.

Foi presidente da European Research Group on Military and Society entre 2017 e 2019, e integrou o Conselho do Ensino Superior Militar entre 2011 e 2012. Foi também membro do Conselho Geral do Instituto Universitário Militar entre 2017 e 2020, e fez parte do Conselho Geral do ISCTE, entre 2017 e 2019.

Entre a obra publicada destacam-se “Gender and the Military. Women in the Armed Forces of Western Democracies”, em 2006, sobre as mulheres nas forças armadas nos países ocidentais, e “Mulheres em Armas. A Participação Militar Feminina na Europa do Sul”, em 2002.

Ana Catarina Mendes, da JS a ministra

Tem 49 anos, é advogada, começou a carreira na Juventude Socialista (JS), e ocupou cargos dirigentes no PS, exercendo a liderança da bancada socialista desde 2019. Apontada como uma possível sucessora do secretário-geral do PS, António Costa, Ana Catarina Mendes foi a primeira mulher a assumir a liderança da bancada socialista, em 2019, sucedendo a Carlos César, presidente do partido, à frente do grupo parlamentar socialista.

Foi secretária-geral adjunta do PS entre 2016 e 2019 e eleita deputada sucessivamente, pelo círculo de Setúbal, desde 1995 (VII legislatura), quando António Guterres venceu as legislativas.

Ana Catarina Veiga Santos Mendonça Mendes nasceu em Lisboa, em 14 de janeiro de 1973, e é licenciada em Direito pela Universidade de Lisboa. Antes de ser designada secretária-geral adjunta do PS, em 2016, foi presidente da Federação Distrital de Setúbal e deputada municipal em Almada, entre 1993 e 1997.

Em 2015, pertenceu, com António Costa, Carlos César, presidente do PS, à equipa que negociou o acordo parlamentar à esquerda dos socialistas com BE, PCP e PEV, mais tarde conhecido como “geringonça”.

Participa, todos os domingos, no programa Circulatura do Quadrado, na TVI e TSF, com José Pacheco Pereira e António Lobo Xavier.

Elvira Fortunato, inventou o ‘papel eletrónico’ e deu voz a boneco animado

É engenheira, professora e multipremiada e multifacetada cientista, que inventou com o marido o “papel eletrónico” e emprestou a voz a um boneco animado que a personifica. Natural de Almada, concelho onde vive, é doutorada em engenharia de materiais, na especialidade de microeletrónica e optoeletrónica, pela Universidade Nova de Lisboa, de que é vice-reitora desde 2017.

Nos últimos dez anos, a investigadora recebeu mais de 18 prémios e distinções internacionais pelo seu trabalho, incluindo a Medalha Blaise Pascal da Academia Europeia de Ciências, em 2016, e o Prémio Estreito de Magalhães do Governo do Chile, em 2020.

Fruto ainda do seu percurso profissional, foi distinguida com o grau de Grande Oficial da Ordem do Infante D. Henrique, em 2010, com o Prémio Pessoa, em 2020, e com a Medalha de Ouro da Ordem dos Engenheiros, em 2021.

É professora catedrática no Departamento de Ciência dos Materiais da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, onde se formou, e membro do Conselho Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, da Academia das Ciências de Lisboa, da Academia Europeia de Ciências e do Conselho de Curadores da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento.

Ao lado do marido, que preside à Academia Europeia de Ciências desde 2018, Elvira Fortunato dirige desde 1998 a equipa do Cenimat – Centro de Investigação de Materiais que se destacou pela descoberta do transístor de papel.

A cientista, que, na área dos materiais, coordena ainda o laboratório i3N – Instituto de Nanoestruturas, Nanomodelagem e Nanofabricação, é também autora e coautora de mais de 900 artigos publicados em revistas científicas e de 50 livros. No livro infanto-juvenil “As cientistas” é uma das duas portuguesas retratadas.

Para lá da investigação científica, Elvira Fortunato já chegou ao cinema, dando voz à personagem Marlene Starr, uma das mais bem-sucedidas cientistas do mundo, na versão portuguesa do filme de animação “Um Susto de Família 2”, em exibição. Numa iniciativa que visa inspirar as meninas para a ciência, é também um dos “rostos” de uma das bonecas Barbie.

Catarina Sarmento e Castro é a nova ministra da Justiça

Nasceu em Coimbra, em 1970, é doutorada, mestre e licenciada em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra. Ex-juíza do Tribunal Constitucional, é docente da Faculdade de Direito de Coimbra desde 1994, sendo, atualmente, professora auxiliar, e filha do ex-deputado Osvaldo Castro, que foi presidente da Comissão de Assuntos Constitucionais.

Ocupava desde 2019 o cargo de secretária de Estado de Recursos Humanos e Antigos Combatentes, no Ministério da Defesa Nacional. Foi no seu mandato que foi aprovado o Estatuto do Antigo Combatente, no ano passado.

Enquanto docente, deu aulas em áreas como direito constitucional, direito administrativo e administrativo da polícia, direito das novas tecnologias, incluindo administração eletrónica, e proteção de dados pessoais. Desempenhou funções de juíza do Tribunal Constitucional entre 2010 e 2019, altura em que entrou para o Governo cessante.

Foi também membro do Conselho Consultivo da Procuradoria Geral da República, do Conselho Superior dos Tribunais Administrativos e Fiscais e vogal da Comissão Nacional de Proteção de Dados.

Ainda de acordo com a biografia divulgada pelo Governo, “tem exercido, ao longo dos anos, atividade de docência nas licenciaturas, pós-graduações, mestrados e doutoramentos organizados na sua e noutras universidades, nas áreas de Direito constitucional, Direito administrativo e Direito administrativo da polícia, Direito das novas tecnologias, incluindo Administração eletrónica, e proteção de dados pessoais”.

Mariana Vieira da Silva, a ministra mais nova é a número dois de Costa

Socióloga de 43 anos sobe a “número dois” na hierarquia do Governo e mantém a pasta da Presidência, acumulando com as áreas do Planeamento e da Administração Pública. Já considerada como “braço-direito” do primeiro-ministro é uma das mais jovens ministras do novo Executivo.

Com a pandemia, coube-lhe muitas vezes o anúncio das medidas de combate à covid-19 e em agosto, nas férias do primeiro-ministro, foi primeira-ministra em exercício. Mariana Vieira da Silva integra os governos de António Costa desde 2015, tendo sido secretária de Estado Adjunta do primeiro-ministro até 2019.

Em fevereiro desse ano, na remodelação do Governo, subiu a ministra da Presidência e da Modernização Administrativa, substituindo no cargo Maria Manuel Leitão Marques, que concorria então pelas listas do PS ao Parlamento Europeu. Já no Governo que saiu das eleições legislativas do final de 2019, chegou ao núcleo central do executivo de António Costa como ministra de Estado e da Presidência.

Antes, entre 2009 e 2011 foi adjunta no gabinete do então primeiro-ministro, José Sócrates, e anteriormente trabalhou como assessora da ministra da Educação Maria de Lurdes Rodrigues entre 2005 e 2009. No PS, já sob a liderança de António Costa, esteve envolvida na elaboração dos programas eleitorais.

Membro do Secretariado Nacional do PS e colocada entre os potenciais sucessores de António Costa na liderança deste partido, foi praticante de natação de alta competição pelo Sporting. Nasceu em 1978, em Lisboa, é licenciada em Sociologia pelo ISCTE-IUL e é filha antigo ministro do Trabalho e da Segurança Social, José António Vieira da Silva.

Em termos académicos, concluiu a parte curricular do Doutoramento em Políticas Públicas, no ISCTE, encontrando-se a terminar uma dissertação sobre políticas de saúde e de educação em Portugal. Fez parte da equipa organizadora do Fórum das Políticas Públicas, no ISCTE, e foi membro do Conselho Consultivo do Programa Gulbenkian para Cultura e Ciência, da Fundação Calouste Gulbenkian.

No plano profissional, o seu lugar de origem é na União das Mutualidades Portuguesas.

Ana Abrunhosa, “a costureira” em prol da coesão

Foi numa das suas primeiras idas ao Parlamento como ministra, em janeiro de 2020, que Ana Abrunhosa disse aos deputados que o papel do Ministério da Coesão Territorial, que havia sido criado meses antes, era como o de “uma costureira”, cosendo as várias intervenções governativas em prol do território e das pessoas, numa missão que “não é partidária”.

Na legislatura que agora começa, Ana Abrunhosa ganhou duas tutelas novas no seu ministério, as autarquias e o ordenamento do território, que estavam na Modernização Administrativa e no Ambiente, respetivamente, passando a ter sob sua alçada duas Secretarias de Estado, a do Desenvolvimento Regional e a da Administração Local e Ordenamento do Território.

Antes de chegar a ministra, Ana Maria Pereira Abrunhosa Trigueiros de Aragão, nascida em Angola, em 1970, tinha sido presidente da Comissão de Coordenação de Desenvolvimento Regional do Centro (CCDRC), entre maio de 2014 e outubro de 2019. Neste cargo, foi uma das responsáveis que deu a cara pelos problemas com a reconstrução das casas destruídas pelos grandes incêndios de outubro de 2017.

Licenciada em Economia, mestre em Economia e doutorada em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, foi docente nesta faculdade entre 1995 e a ida para o Governo, em 2019.

Lecionou diversas disciplinas e colaborou regularmente com outras faculdades da Universidade de Coimbra. Foi também investigadora do Centro de Estudos Sociais, da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra.

Iniciou a sua atividade profissional na empresa Ernst & Young, na área de auditoria, onde trabalhou desde julho de 1994 a outubro de 1995.

Maria do Céu Antunes, seca e escala dos custos serão os desafios

Natural de Abrantes, a ministra terá agora que continuar a apresentar soluções para o setor, que reclama apoios que mitiguem o impacto da seca e da escalada dos custos de produção, agravada pela invasão da Ucrânia pela Rússia. O setor apela ao fim da especulação e pede a adoção de medidas extraordinárias.

Maria do Céu Antunes conseguiu fechar a reforma da PAC durante a Presidência Portuguesa do Conselho da União Europeia, mas a forma como conduziu o Plano Estratégico da PAC (PEPAC) tem sido alvo de críticas pelo setor.

Nasceu em 1970 é licenciada em Bioquímica pela Faculdade de Ciências e Tecnologias da Universidade de Coimbra e tem uma pós-graduação em Gestão da Qualidade e Segurança Alimentar pelo Instituto Superior de Ciências da Saúde Egas Moniz.

Foi presidente da Câmara Municipal de Abrantes durante nove anos, presidiu também ao Conselho Intermunicipal da Comunidade Intermunicipal do Médio Tejo. Além disso, integrou o Conselho Económico e Social e o Conselho das Comunidades e Regiões da Europa na Comissão Permanente para a Igualdade das Mulheres e dos Homens na Vida Local.

Foi também membro do Comité de Acompanhamento do Programa Operacional Regional Centro 2020 e da Comissão Executiva da Entidade Regional do Turismo Centro de Portugal, tendo ainda presidido à direção da Associação Portuguesa de Parques de Ciência e Tecnologia (TecParques).

Antes de ter assumido, pela primeira vez, a pasta da Agricultura, em 2019, foi secretária de Estado do Desenvolvimento Regional do XXI Governo Constitucional.

Marta Temido, a gestora que se tornou um dos “rostos” da pandemia

Vai integrar um executivo pela terceira vez, depois de se ter estreado no Governo em outubro de 2018, na sequência da saída de Adalberto Campos Fernandes. Um ano depois – em outubro de 2019 -, Marta Alexandra Fartura Braga Temido de Almeida Simões mereceu novamente a confiança de António Costa e, poucos meses depois, passou a ser um dos “rostos” mais conhecidos dos portugueses devido à pandemia da covid-19, que chegou a Portugal no início de 2020.

Desde então, o combate à covid-19 passou a dominar a atuação do ministério de Marta Temido, natural de Coimbra, onde nasceu em 1974. Além da pandemia, a sua governação ficou ainda marcada pela aprovação em Conselho de Ministros, em outubro de 2021, do novo Estatuto do SNS, conforme previsto na Lei de Bases da Saúde publicada em 2019.

Este novo Estatuto prevê a criação de uma direção executiva para a gestão do SNS, uma área que não é desconhecida para a ministra da Saúde, que é doutorada em Saúde Internacional, mestre em Gestão e Economia da Saúde e licenciada em Direito.

Ao longo da sua carreira profissional, Marta Temido, que possui também uma especialização em Administração Hospitalar, desempenhou diversos cargos de direção em entidades do setor. Foi subdiretora do Instituto de Higiene e Medicina Tropical da Universidade Nova de Lisboa, presidente do conselho diretivo da Administração Central do Sistema de Saúde, presidente não executiva da administração do Hospital da Cruz Vermelha Portuguesa e membro da administração de vários hospitais públicos. Foi ainda presidente da direção da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares. 

Recentemente a sua visibilidade pública estendeu-se à atividade partidária, com a sua filiação no Partido Socialista, chegando mesmo a receber o cartão de militante das mãos de António Costa no congresso que se realizou em agosto de 2021 em Portimão, título que considerou ser “uma honra” e também “uma responsabilidade”.

Ana Mendes Godinho, ministério mais curto

O ministério de Ana Mendes Godinho fica agora mais pequeno, com três secretarias de Estado – Trabalho, Segurança Social e Inclusão e da Ação Social – contra as anteriores quatro. Assumiu a pasta na anterior legislatura, em outubro de 2019, sucedendo a Vieira da Silva e depois de ter sido secretária de Estado do Turismo, entre 2015 e 2019.

O seu mandato foi marcado pela resposta à pandemia covid-19, com a criação de vários apoios às empresas, trabalhadores e famílias, como o ‘lay-off’ simplificado ou o apoio à retoma.

Na Concertação Social, além dos apoios no âmbito da covid-19, discutiu com os parceiros a Agenda do Trabalho Digno, cujas alterações à lei laboral aí previstas acabaram por ficar pelo caminho com a dissolução da Assembleia da República, devendo agora ser retomada. Em mãos terá ainda o aumento extraordinário das pensões, bem como as negociações sobre o aumento do salário mínimo nacional.

Nasceu em 1972, é casada, tem três filhos e é licenciada em Direito, pela Universidade de Lisboa. Antes de chegar a secretária de Estado, Ana Mendes Godinho foi chefe de gabinete de Bernardo Trindade, secretário de Estado do Turismo dos governos de José Sócrates.

Foi ainda diretora dos Serviços de Apoio à Atividade Inspetiva da Autoridade para as Condições do Trabalho, tendo, entre 2001 e 2005, sido inspetora do trabalho. Passou ainda pelo Turismo de Portugal, onde foi vice-presidente, tendo também coordenado o curso de pós-graduação de Direito do Turismo na Faculdade de Direito de Lisboa. Ocupou também o cargo de representante de Portugal no Comité Técnico da ISO/Turismo.

Passou ainda pelo mundo empresarial, ocupando a vice-presidência do Conselho Geral do Fundo Imobiliário Especial de Apoio às Empresas e tendo sido administradora da Turismo Capital, SCR, e da Turismo Fundos, SGFII, SA. Foi ainda membro do Conselho Consultivo da Fundação Inatel.

A responsável pela pasta do Trabalho também tem experiência como consultora jurídica da Direção-Geral do Turismo.

COM LUSA