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“Vaidade” e “antipatias políticas”: os argumentos de Sócrates contra Carlos Alexandre

O antigo primeiro-ministro não quis falar da campanha eleitoral, mas afirma que “toda a política está a tentar branquear o que é uma falha gravíssima” – incluindo o PS “que está no Governo”.

“Vaidade” e “antipatias políticas”: os argumentos de Sócrates contra Carlos Alexandre

José Sócrates afirma que a distribuição do processo da Operação Marquês ao juiz Carlos Alexandre foi feita de forma “ilegal” e “fraudulenta”. O antigo primeiro-ministro sublinha, aliás, que o sorteio teve várias falhas: foi feito de forma manual e sem ter sido presidido por um juiz, e a distribuição teve a cumplicidade da escrivã Teresa Santos.

“Acho que ele [Carlos Alexandre] quis ficar com aquele caso com um triplo objetivo: para a sua própria vaidade, para a construção da sua biografia e para resolver os problemas que tem com as suas simpatias e antipatias políticas“, disse José Sócrates em entrevista, na noite desta sexta-feira, à CNN Portugal.

O antigo primeiro-ministro afirma que durante um ano e meio, o tribunal agiu de forma ilegal, atribuindo “todos os processos mediáticos” ao juiz Carlos Alexandre.

Era assim que as ditaduras faziam com os opositores políticos”, criticou, acrescentando que “ninguém está acima da lei, nem eu nem o juiz Carlos Alexandre e a escrivã Teresa Santos“.

O juiz Carlos Alexandre era “o que agradava ao Ministério Público“, acusa Sócrates, sustentado que o magistrado admitiu ter interferido na seleção da escrivã Teresa Santos, e referindo que a candidata ao lugar, segundo o movimento dos funcionários, seria Anabela Correia.

Durante a entrevista, citou ainda a conclusão da Procuradoria-Geral da República para mostrar que tanto o Ministério Público como o Conselho Superior da Magistratura concluíram que “a distribuição foi viciada, mas foi sem querer, sem intenção“.

“Foi com uma intenção deliberada, com a intenção de me prender“, afirmou, garantindo que o juiz demonstrou “toda a parcialidade, esteve sempre ao lado do Ministério Público“.

O antigo primeiro-ministro afirma ainda que “toda a política está a tentar branquear aquilo que é uma falha gravíssima – o meu partido em particular que é o que está no Governo”. Sócrates reclama que não teve direito ao juiz natural, consagrado na Constituição, e defende que este deve garantido a todos os cidadãos.

Eu sinto-me a lutar sozinho, contra o poder político, contra o poder judicial, contra o poder mediático“, afirma, sublinhando que “todo o país está a fingir que eu não estou a dizer isto, que isto não existe, mas existe.”

José Sócrates avançou com uma participação contra Carlos Alexandre acusando-o de alegado abuso de poder e outros crimes. Esta participação vai ser distribuída no Tribunal da Relação na segunda-feira, pelas 10:30.

A defesa do antigo chefe de governo alega que o juiz Carlos Alexandre e a escrivã, que fez a distribuição manual, “combinaram entre si, planearam e vieram a conseguir” que o processo fosse entregue de “forma ilegal”. Segundo o Expresso, o requerimento interposto foi aceite e os dois terão de responder por alegados crimes de abuso de poder, falsificação de funcionários e denegação de justiça.