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Joana Seixas (parte 1): “O ódio é um lugar de opressão. Veja-se o caso de Israel, um povo oprimido que oprime outro”

Joana Seixas é um rosto bem conhecido da televisão e uma das atrizes portuguesas mais comprometidas a usar a voz em prol de diversas causas humanitárias como a crise climática ou a defesa por um cessar-fogo em Gaza. A atriz considera que as novas vozes femininas que afirmam ter sofrido assédio sexual são a ponta do iceberg da sociedade. Muito crítica do silêncio perante as várias injustiças, considera que estar em cima do muro a assistir a atentados aos direitos humanos, “molda o caráter das pessoas para a apatia”. No arranque de 2025, Joana regressa à televisão no ‘remake’ da novela “Ninguém Como Tu”, agora em série, na pele da vilã Luiza Albuquerque, a personagem representada há vinte anos por Alexandre Lencastre. Ouçam-na na primeira parte desta conversa com Bernardo Mendonça

Joana Seixas é um rosto bem conhecido da televisão, entre séries e novelas, mas também com um longo percurso no teatro e algumas participações no cinema. Mas é cada vez mais uma voz ativa nas redes sociais e na sociedade enquanto espírito crítico contra as injustiça sociais e atentados aos direitos humanos.

Neste país dos brandos costumes, em que boa parte das figuras mediáticas da televisão caminha como se estive em cima de fino gelo, com medo de sair do quadrado perfeito, e que se quebrem contratos, trabalhos, seguidores, marcas, ou a tão valiosa popularidade, Joana é um espírito livre, insubmisso, destemido, de olhar consciente, que tantas vezes salta de cima do muro (o muro do silêncio) e com coragem se atravessa nas lutas em que acredita.

Nuno Fox

Este é um caminho solitário e que tem uma certa fatura na sua vida? Ou Joana sente-se cada vez mais acompanhada nesta atitude mais ativista, feminista, humanista? A pergunta é-lhe colocada.

Joana nasceu no rescaldo do Verão quente de 75. É filha de um casal da beira-alta que cedo rumou a Lisboa e, ainda antes do 25 de Abril, fez parte de várias ações políticas e culturais de luta anti-fascista contra o antigo regime.

E assim, a atriz diz sentir-se uma filha de Abril apesar de não ter vivido a Revolução, mas a semente revolucionária anti-fascista ficou em si e nas causas que defende até hoje.

Como olha Joana para estes 50 anos passados desde o 25 de abril? A seu ver, o que falta cumprir no nosso país, que grande erros se cometeram, e que revoluções sociais, culturais, políticas importa que sejam feitas? É ouvi-la neste episódio.

Na escola, enquanto aluna, Joana recorda-se de si como uma inadaptada, com a cabeça sempre mais dirigida aos sonhos e à imaginação do que ao aborrecimento do “empinanço” nas salas de aulas.


Nuno Fox

E esse seu desagrado pela forma como se ensinava nas escolas foi apurando o seu espírito crítico e aguçando o seu olhar e gosto de ir vendo o mundo e a vida das mais várias perspectivas.

Uma nota curiosa: Aos 10 anos, Joana chegou a fazer parte da banda pop juvenil, os “Onda Choc”, criação musical de Ana Faria, mas foi mais tarde no Conservatório de Teatro, e depois nos palcos, onde encontrou o seu lugar e passou a usar as ferramentas da arte para refletir sobre mais fundo sobre si, os outros e o mundo.

Para Joana Seixas, perante as tantas opressões na sociedade, ninguém será verdadeiramente livre, se todas as pessoas não o forem. Por isso, Joana não se identifica com o espírito individualista, egoísta, mesquinho que parece moldar a rota de tanta gente.


Nuno Fox

Na madrugada de 11 de março deste ano, após ter conhecido os resultados das legislativas, com um aumento expressivo da extrema direita, Joana escreveu nas redes sociais que era um dia triste e cinzento para a democracia, e que ficou apática e abatida, com pouca crença na Humanidade. Mas rapidamente percebeu que “o fascismo não se debate, combate-se.”

E qual a melhor forma de combater o ódio, a polarização, e a enraizada ignorância de tanta gente e o profundo aproveitamento que se faz dela. Joana Seixas não tem dúvidas de que no nosso país há mesmo demasiadas pessoas individualistas, racistas e fascistas à sua volta. À nossa volta.

Como se combate o ódio, o preconceito e a polarização? Como se desmontam as ideias populistas e discriminatórias à mesa? É a eterna questão refletida neste episódio com Joana Seixas.


Nuno Fox

Joana conta também que é muito esquecida, e que se sua memória seletiva funciona como uma espécie de filtro natural para não se lembrar do que não precisa e continuar a ter a cabeça ocupada com utopias, que a alimentam e lhe dão horizonte e um certo sentido para a vida.

No entanto, há coisas que não esquece, e depois de relatar ao Expresso que foi alvo de certos avanços e tentativas de assédio sexual de superiores hierárquicos que conseguiu travar a tempo de não se tornar uma vítima, comenta a razão de ainda não ter havido um verdadeiro “#metoo” em Portugal, como aconteceu na América com as denúncias de assédios em Hollywood. Muito embora continuem a ser soprados nomes de agressores nos bastidores e há novos casos denunciados no meio da música. Será esta a ponta de um iceberg? Joana não tem dúvidas disso e vai ao centro do problema neste podcast.


Nuno Fox

Sobre si, pelo facto de estar há mais de duas décadas a interpretar uma multidão de personagens, mulheres mais boazinhas ou mais vilãs, tem tido o privilégio de calçar os sapatos de vários lados da Humanidade. Há em si a sensação de ter vivido várias vidas nesta vida? E nesta metamorfose ambulante, entre os vários papéis na vida, enquanto mãe, atriz e ativista, quem é Joana Seixas na fila do pão?

O episódio começa por aqui mesmo. Pela forma como Joana se apresenta ao mundo, enquanto profissional, mulher, cidadã.

Como sabem, o genérico é assinado por Márcia e conta com a colaboração de Tomara. Os retratos são da autoria de Nuno Fox. E a sonoplastia deste podcast é de João Ribeiro.

Nuno Fox

A segunda parte deste episódio será lançada na manhã deste sábado. Boas escutas!

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