O Futuro do Futuro

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Inês Lynce: “Toda a revolução tecnológica que assistimos atualmente está ligada à Inteligência Artificial“

A Inteligência Artificial prepara-se para dar início à grande invasão do espaço doméstico, mas os legisladores europeus nem sempre garantem o consenso junto da comunidade que desenvolve tecnologias. “Quando se entra no Regulamento Geral de Proteção de Dados e na inteligência artificial, eu digo sempre: Estragaram tudo!“, responde Inês Lynce, presidente do instituto INESC-ID no podcast Futuro do Futuro. João Tiago Martins, especialista em IA da Noesis, que também participou neste episódio especial gravado ao vivo, recorda que as proteções têm de ser aplicadas logo no desenvolvimento dos algoritmos

Um dia até os eletrodomésticos mais banais terão Inteligência Artificial (IA) para dar resposta às necessidades e hábitos dos donos. E esse dia pode já não demorar muito mais a chegar. “Eu penso que, a largos passos, para lá caminhamos”, prevê Inês Lynce, presidente do instituto de investigação INESC-ID, em entrevista ao Futuro do Futuro.

Neste episódio de podcast, voltámos a ter a IA como pano de fundo. Além de Inês Lynce, investigadora que já participou na redação de mais de 100 artigos científicos, contámos com a participação de João Tiago Martins, gestor de IA e Análise de Dados da Noesis, que deu a conhecer o trabalho feito em torno de um agente digital que conversa e pesquisa informação para os humanos, e que a gíria conhece como chatbot. Dave é o nome deste novo chatbot.

Inês Lynce deixou reparos à legislação europeia que tem sido aplicada à Inteligência Artificial
Joao Girao

“O Dave não tem a emoção. O Dave comporta-se de acordo com o desafio de negócio para o qual foi construído. Eu posso dizer “Senhor Dave, comporte-se desta desta forma”. Portanto, ele não tem sentimentos, não tem emoção, mas replica-os, e pode replicar o tom de resposta”, descreve João Tiago Martins.

Foi precisamente com uma demonstração das habilidades do Dave que João Tiago Martins deu resposta a um dos desafios colocados pelo Futuro do Futuro com um vídeo de apresentação do novo chatbot da Noesis. Por sua vez, Inês Lynce trouxe uma imagem relativa ao facto de ter sido distinguida pela iniciativa Mulheres na Ciência, levada a cabo pelo Ciência Viva.

João Tiago Martins recorda que cabe sempre aos humanos a decisão final
Joao Girao

Hoje, a IA surge como um motor de transformação da sociedade, mas nem sempre foi assim.

“Muitas vezes fala-se no Inverno da inteligência artificial. Eu lembro-me quando, no final dos anos 90, comecei a estudar inteligência artificial, era um clássico, mas não estava em alta. Estava em baixa, estava no Inverno. E agora estamos no Verão. Não sabemos o tempo que vai durar, mas muitas vezes na comunidade se fala que há de voltar o Inverno”, avisa Inês Lynce.

Mudam-se as ferramentas e os hábitos, e mudam-se também as leis. E Inês Lynce, sendo tecnóloga e admitindo que os usos maléficos têm de ser acautelados, não contém a crítica aos regulamentos que têm vindo a ser aprovados para a UE. “Quando se entra no RGPD (Regulamento Geral de Proteção de Dados) e na inteligência artificial, eu digo sempre: estragaram tudo!”, refere a investigadora da área da IA.

Inês Lynce recorda que robôs e agentes digitais dependem diretamente da qualidade dos dados. E mesmo que as leis o exijam, nem sempre se consegue descortinar o que levou um conjunto de algoritmos a produzir determinada resposta ou resultado.

“Há ali coisas por trás (dos sistemas de IA) que são modelos que são treinados e que se são baseados em determinados comportamentos, que nós não conseguimos explicar. São métodos muitas vezes baseados em estatística e que, portanto, não são necessariamente racionais, mas funcionam muito bem”, responde Inês Lynce.

João Tiago Martins salienta que a evolução tecnológica não tem de retirar o poder de decisão aos humanos. “Eu digo sempre que o último 'enter' (no teclado do computador) da última ação tem de ser do humano.” O gestor da Noesis lembra que os cuidados e os mecanismos de segurança têm de ser tidos em conta logo que se começa a trabalhar uma nova geração de tecnologias.

“Está na nossa mão criarmos essas barreiras, esses guardrails, que impeçam o modelo de ter esse tipo de de comportamentos que têm ações fora do normal ou tenham ações que, de acordo com o que nós quando montamos esse modelo interpretamos como negativas ou que não devem ser tomadas”, conclui o gestor da Noesis.

João Tiago Martins acredita que a chegada dos robôs ao cenário doméstico pode funcionar como um reforço de humanismo – precisamente em situações em que nem sempre os humanos estão disponíveis para acudir.

O responsável da Noesis admite que o uso de robôs para acompanhar crianças ou idosos pode colmatar lacunas da atual sociedade: “O que nós vamos tentar fazer é dar um bocadinho mais de qualidade de vida à pessoa”, refere. “Se eu puder ter um robô a dar um bocadinho mais de qualidade de vida e a ir buscar um copo de água, ou ajudar algum tipo de tarefa como, por exemplo, limpar o chão como os típicos robôs que nós utilizamos nas nossas casas e que substituem os antigos aspiradores que nós tínhamos… Para mim é um sinal de humanismo”, conclui o responsável da Noesis.

Tiago Pereira Santos

Hugo Séneca conversa com mentes brilhantes de diversas áreas sobre o admirável mundo novo que a tecnologia nos reserva. Uma janela aberta para as grandes inovações destes e dos próximos tempos.


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